Depois de quase três anos desde seu terceiro disco Júpiter, lançado em 2015, e de uma turnê extensa cantando Marisa Monte, que inclusive rendeu dois discos, um com versões de estúdio e ao vivo, o capixaba Silva lança ‘Brasileiro‘, seu tão aguardado novo trabalho.
A estética visual traz cenários suburbanos, natureza e simplicidade, que se encaixam perfeitamente ao título. Sobre a sonoridade, aqui Silva deixa de lado seus sintetizadores, batidas eletrônicas e guitarras e incorpora nas composições elementos mais orgânicos.
A primeira faixa ‘Nada Será Mais Como Era Antes’ já abre o disco com sons de percussão, bem ao estilo carnaval, mas aqui ainda ouvimos um pouco de sintetizadores e piano, como se essa fosse uma conexão saindo da antiga sonoridade para a nova proposta do disco.
‘A Cor é Rosa’ é o primeiro single, é pegajosa, leve, com um groove de baixo bem gostoso e vocais suaves como só o Silva consegue fazer, aqui também temos instrumentos mais bem explorados como sax, percussão e palmas que dão um clima bem brasileiro a música.
‘Duas da Tarde’ segue um estilo bem bossa nova, violão dedilhado bem suave e um baixo discreto. Até aqui já da pra notar o quanto as coisas mudaram se comparado aos discos anteriores.
Na quarta faixa ‘Cajú’, podemos destacar os backing vocals, o sax e novamente as batidas eletrônicas que deram lugar às percussões, tornando as composições mais orgânicas.
Uma das parcerias mais aguardadas está na próxima música, ‘Fica Tudo Bem’, com a participação de Anitta, a faixa começa com tamanha sutileza, o violão acompanha as vozes que entram em perfeita sintonia e criam aquele clima de calmaria, pena ser tão curta, pois ficou um gosto de quero mais.
‘Let Me Say’ traz de volta algo do Silva antigo, mas com uma pitada nova, aqui a levada da bateria nos remete ao baião, ela é embalada pelo samba da instrumental ‘Sapucaia’. Em seguida ‘Prova dos Nove’ tem uma linha calcada no samba mas bem cadenciada, trazendo de volta uma calmaria.
‘Palmeira’ é mais uma faixa instrumental, dessa vez só no piano, porém bem curtinha e singelamente abre caminho para ‘Milhões de Vozes’, e é claro que preciso demonstrar aqui todo o amor que tenho por ela, que música!
Primeiro que a letra é tão atual, ela fala muito por nós: ” Tanta implicância, que só quer se amplificar, tanta ignorância, ansiando se mostrar… ” e diga-se de passagem que Silva só na voz e violão é uma das coisas mais maravilhosas, ainda mais com um backing vocal tão lindo e delicado desses.
Não menos querida, temos ‘Ela Voa’, outra música que destaco como uma das melhores do disco, ela nos lembra facilmente algumas canções do debut Claridão (2012), com a volta dos sintetizadores, piano e uma batida eletrônica de leve.
Como tudo o que é bom dura pouco, temos as duas últimas músicas que fecham o disco, ‘Guerra de Amor’, também segue a linha bossa nova e não traz muita novidade, já ‘Brasil, Brasil’ entra com clima de encerramento, a letra enaltece o país de forma bonita em um musicalidade minimalista com apenas vocal, palmas, percussão e um synth de fundo.
Se no início de sua carreira Silva trazia uma musicalidade mais moderna, aqui ele tenta se reinventar e dar destaque as suas raízes mais brasileiras, com uma mistura de estilos, da MPB, passando pelo samba e baião, sem deixar de lado sua essência. Talvez daqui há alguns anos esse seja um cult ou não, isso só o tempo dirá.