weird fingers é o projeto de Raad Ferreira, já falamos sobre ele aqui, um jovem músico que faz parte dessa nova geração que quebra os empecilhos ao se compor e produzir música. Ele é o responsável por todos os processos. Desde as composições, letras e produção que são feitas pelo celular em seu quarto.
‘Paisagens fugitivas’ é como foi batizado seu novo EP, esse já é seu sexto lançamento e marca um trabalho intenso, introspectivo e sentimental. Durante as quatro faixas, o músico externa explicitamente seus sentimentos, abordando temas como saúde mental, problemas familiares, financeiros e as relações modernas.
Esses sentimentos conflitantes são envoltos por uma sonoridade amena, ruidosa e introspectiva, trazendo facilmente aquele clima de estar sozinho em um quarto escuro, deitado e olhando pela janela enquanto os minutos correm com os pensamentos ou até mesmo em uma caminhada solitária e sem destino.
”É música para quem sente que precisa de um abraço, pra quem chega de noite cansado e foge do mundo através dos fones de ouvido, pra quem pedala pra longe e tentado pela liberdade reluta em voltar.”
Raad Ferreira (weird fingers)
Entre suas principais influências musicais estão Keaton Henson, herbal tea, Oupa (projeto do Daniel Blumberg, ex-Yuck), José González, Grouper e fntsma. Todas as canções foram compostas e gravadas num celular em casa por Raad Ferreira durante a quarentena, antes de nascer o sol ou vendo ele se por.
Compor e produzir música sem estúdios e selos de divulgação é algo desafiador e pode trazer aquele sentimento de limitação. Conta pra gente como funciona seu processo de composição, gravação e produção das músicas, quais equipamentos você costuma usar?
Normalmente eu toco e canto algo espontâneo seguindo alguma ideia ou linhas que ando pensando no momento enquanto gravo no celular. Depois eu começo a gravar faixas de violão/outros instrumentos iniciais mas na verdade sem ter uma ideia muito clara de como a música vai se desenvolver até chegar na DAW.
Aí na verdade acaba sendo uma coisa meio aleatória, ir ouvindo o som até pensar no que encaixar em harmonia (ou desarmonia), ir testando sintetizadores, vozes ecoando e tudo que dê pra criar o clima da música. Algumas músicas também são de gravação bem crua, só aperta o rec e segue a ideia junto com o sentimento, depois eu vejo o que fica legal ali de arrumar na sonoridade… aumentar as camadas, reverberar etc… Real que eu gosto de brincar com os efeitos até chegar onde quero.
Já é uma premissa dos seus trabalhos terem uma identidade que parte do lo-fi, folk, e drone. Você pensa em manter essa sonoridade em suas composições futuras ou gostaria de experimentar novas sonoridades?
Quero e tento criar uma identidade diferente em cada trabalho, mas a sonoridade segue na mesma intenção de criar que soe distante, submerso, meio sombrio. Eu vivo cheio de ideia de coisas pra inventar e é sempre no último minuto que eu sigo algum caminho, mas as ideias que venho criando são de expandir a instrumentação, gravar mais canções com bateria/guitarra e um ritmo lento.
Se você pudesse escolher apenas uma das suas músicas para fazer parte da trilha sonora de um filme, qual seria a música e o filme escolhidos?
Essa pergunta é perfeita!!! Muita coisa que eu faço é pensando em alguma cena sabe? Não sei se faz muito sentido pra todo mundo que ouve mas eu componho/escuto visualizando cenas de um filme que não existe realmente, meio que feito por memórias sei lá… Enfim, acho que “desculpa tudo bem oi” nas cenas iniciais do filme “Árabia”, dirigido por João Dumans e Affonso Uchoa.
O que você diria para quem está pensando em compor músicas, mas ainda se sente inseguro ou limitado quanto a equipamentos?
É importante saber o quanto aquela composição tá significando pra você. Independente de como for gravada, aquela importância persiste. E se é importante mesmo a gente corre atrás de fazer independente do material que tiver a disposição. As pessoas vão se ligar que tu fez seu melhor e carregou com sentimento. Insegurança precisa de amizade, alguém que tu confia e que sabe o valor do que cê tá fazendo. Tá lá pra ouvir teu som e dizer o que precisa porque sabe o quanto aquilo vale pra você.