Nada será como antes

nada será como antes

Não sei se esse texto vai fazer tanto sentido pra você, caro leitor, mas me deu uma súbita vontade de escrever depois de ver o documentário Nada Será Como Antes – A música do Clube da Esquina dirigido por Ana Rieper e eu tinha que botar esses pensamentos e sentimentos pra fora. 

Se você gosta ou conhece MPB já imagina que esse documentário é sobre o célebre dos álbuns Clube da Esquina 1 e 2, mais especificamente o primeiro, considerados por muitos como os maiores álbuns brasileiros de todos os tempos. Eu vou além e considero como um dos melhores álbuns da vida inteira. Eu acho difícil e praticamente impossível alguém conseguir fazer álbuns tão preciosos quanto. 

Eu imaginava que eu ia gostar muito desse documentário, mas eu não imaginava que ele iria me impactar tanto. É claro que ele poderia ser maior, não acabar subitamente e ter mais profundidade em alguns aspectos, mas acho que ele acertou na medida do que ele se propôs. E isso aqui não é uma crítica de cinema, isso aí a gente deixa para o Letterboxd. 

Mas ele me fez chorar. Eu chorei 3 vezes e quis chorar mais. Não necessariamente porque aconteceu algo no filme, mas porque as músicas me tocaram muito. São músicas que eu já ouço há muitos anos, que passei a adolescência e a vida adulta ouvindo. Porque são músicas de artistas que eu já fui em alguns shows (gostaria de ter ido em muitos outros mais) e que são músicas foda. Infelizmente não tem outro adjetivo a ser usado aqui do que foda. 

É uma dualidade de sentimentos ver como o tempo passa e os artistas que a gente gosta estão envelhecendo (afinal todos nós estamos) e que a gente pode não ter mais a oportunidade de vê-los ao vivo. Mas a gente tem a oportunidade de celebra-los enquanto eles estão aqui, enquanto eles podem colher os frutos desse nosso amor e admiração. E isso vale pra todo mundo. Se você gosta de algum artista, vá no show dele se puder, prestigie, compre merch, manda uma mensagem. Já consegui conversar com muito artista que eu gostava, já consegui dizer o que pensava e o quanto eu os admirava e muitas vezes tive recepções incríveis e eles foram muito mais acessíveis e gentis do que eu poderia imaginar. Não deixe de expressar sua admiração por alguém hoje. 

E eu já puxei muito o saco de Minas Gerais quando falei sobre os artistas que a gente tem lá. Mas eu acho que às vezes a gente não liga pras preciosidades que temos no nosso país. E eu acho Minas Gerais um dos estados mais fantásticos quando o assunto é música, acho que tem alguma coisa no ar de Minas que transforma a música em uma coisa magnífica. Eu amei muito quando visitei Belo Horizonte, achei mágico e fiquei encantada com a cidade, com as paisagens, com a gentileza da cidade e com o charme do sotaque tão gostoso que a gente ouvia o tempo todo. São Paulo não tem nada disso, pelo menos pra mim, São Paulo é uma máquina de ansiedade e de moer gente. 

E Minas é o oposto, o ambiente é mais leve e mais despreocupado, até de dia de semana havia uma calma no ar. Eu pretendo ir mais vezes pra lá e ver se isso não é só impressão de turista. Mas eu possivelmente moraria lá fácil e quem sabe eu me tornaria uma artista, e uma artista tão boa quanto os que aparecem nesse documentário. 

Já tive oportunidade de ver Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini, Wagner Tiso e Toninho Horta ao vivo, menos do que gostaria, mas talvez mais do que muita gente. E é realmente um privilégio, é incrível poder ver artistas tão talentosos tocando ao vivo. É algo realmente mágico e tocante. 

E é exatamente essa emoção que esse filme me trouxe e que algum tempo me faltava. E acho que acaba faltando em todos nós. A vida vai sugando a gente, a gente vai se perdendo nesse emaranhado de coisas, de contas, dinheiro, emprego, relacionamentos, notícias, desastres e tudo mais. Eu gosto muito de uma frase que o Fábio de Carvalho canta em L’arrivée D’un Train À La Ciotat, 1895 que descreve esse sentimento: 

Que me lembra de um tempo em que eu me emocionava assistindo filmes

Hoje minha cabeça anda muito presa

Em questionamentos sobre a veracidade dos meus próprios sentimentos, e relacionamentos

Rotas de transporte público, e críticas de filmes com que eu não me importo

A gente perde a perspectiva das coisas que realmente importam e das coisas que nos fazem ser humanos, as coisas que fazem a gente ser o que é, do que vale a pena e do que a gente vai se lembrar daqui alguns anos. 

Até meu marido, que não é fã de MPB, que não conhecia tanto as músicas e os artistas, ficou emocionado e com vontade de fazer música depois de assistir. Às vezes a gente não faz as coisas por vergonha, por medo de que ninguém vá gostar, mas se ninguém tivesse feito o Clube da Esquina, a vida de muita gente seria diferente hoje. Não que tudo que a gente vá lançar seja tão bom quanto, possivelmente nem chegue aos pés, mas alguém vai gostar, alguém vai curtir e se emocionar. 

Musicos do Clube da Esquina em Diamantina – MG

A música e o cinema tem o poder de trazer isso à tona pra mim. Botar a cabeça do lugar e lembrar que sem música as coisas não fazem sentido. É a música que dá vida e sobre o nosso amor pela música que a gente faz isso aqui acontecer.

Genesis é que nem Minas Gerais