Fábio de Carvalho e Wagner Almeida: da introspecção ao visceral e as lágrimas

fabio de carvalho

Já tem uns dois meses que esse show aconteceu, mas eu só decidi terminar de escrever sobre ele agora. Rascunhei algumas coisas no dia seguinte ao show, mas nada me pareceu bom o suficiente. Depois de tanto tempo de hiato do blog, eu já não sabia mais se era possível escrever como eu escrevia antes. Tudo parecia melhor antes. Mas, enfim, vou escrever assim mesmo.

No dia 22/01/23 aconteceu o show do Wagner Almeida e do Fábio de Carvalho em São Paulo. Confesso que eu esperei por um show do Fábio desde 2016, desde que o vi tocando pela primeira vez com a El Toro Fuerte na finada casa de shows chamada Breve. Foi nesse dia que conheci artistas incríveis que iriam me fazer gostar de muitos outros artistas incríveis e que também seriam um dos motivos para começar esse blog com o meu amigo Fábio Braga.

Por ter esperado tanto por esse show, a expectativa era alta, e ela foi atingida e superada. Também esperava por um show do Wagner Almeida desse um pouco antes da pandemia, desde a sua passagem por São Paulo em 2019. Show esse que me emocionou muito (talvez eu tenha uma regra subentendida de sempre chorar bastante nos shows do Wagner) e todas as músicas que o Wagner lançou durante a pandemia foram meu mantra e meu grande apoio nesses tempos tenebrosos.

Nem o Fábio e nem o Wagner têm ideia de quantas vezes eu me acalmei ouvindo suas músicas, de quantas vezes eu estava prestes a pedir demissão e dizer “foda-se essa merda”, mas respirei fundo, contei até 10 e lembrei de todas as contas que eu tenho pra pagar. Das vezes que chorei porque tive um coração partido, ou simplesmente quis acolher minha melancolia interior que me segue desde sempre.

Das vezes em que as músicas falaram profundamente comigo, como se eu tivesse vivido todas as situações que eles descreveram, como muitas daquelas coisas também aconteceram comigo ou pelo menos acho que aconteceram. Parece tudo tão vívido e real, que por um instante parece que eu poderia escrever aquilo, se eu fizesse isso tão bem quanto eles. Assim como o Fábio e o Wagner escrevem sobre suas verdades, eu também tento escrever sobre as minhas.

Ao longo dos anos alguns artistas que eu gostava antes já não fazem mais tanto sentido, mas esses dois têm um espaço cativo no meu coração. Seja pelas centenas de situações que eu passei e em que suas músicas me apoiaram, seja por sempre tratarem com doçura e atenção todos os fãs que se aproximam, pelo talento gigantesco e pela capacidade de moverem as pessoas de maneira sempre positiva. Eu sei que eu sempre pareço puxa-saco demais, mas eu tenho que falar o que eu acho que é verdade. E esses dois merecem todo o sucesso do mundo.

Acho que a maioria das pessoas que estavam presentes no show provavelmente se emocionaram tanto quanto eu. Shows intimistas tem o poder de despertar isso na gente, quando só tem voz e violão (ou guitarra), parece que você se expõe mais, todo mundo tem só um lugar pra olhar, atenção plena e emoção à flor da pele. As letras te atingem de maneira mais forte, e quando você percebe, está chorando ao presenciar o momento, sem quaisquer lembranças de momentos anteriores.

Eu tenho meus próprios motivos para chorar sobre músicas específicas, mas me vi chorando com outras músicas, como com Sob Nova Direção do álbum Eu Enterrei Uma Semente Aqui (2022). Obviamente essa música é imensamente triste, mas dessa vez ela despertou uma tristeza mais visceral, como se finalmente estivesse caindo a ficha.

Outro tipo de emoção foi despertada quando Fábio de Carvalho cantou as músicas do disco Anjo Pornográfico (2021), e aqui vou ter que usar o visceral de novo, mas dessa vez como uma espécie de raiva guardada, um grito reprimido. Acabei gostando mais desse disco depois de ter visto sua performance ao vivo.

É um disco diferente de tudo que o Fábio já havia lançado, um disco mais maduro, mais pesado, mais cru no sentido de deixar as emoções fluírem mais livremente, sejam elas quais forem, mais honesto. O conflito com deus presente mais uma vez, nisso a temática se repete das composições anteriores, e talvez esse seja um assunto infindável (pelo menos pra mim).

Eu sinto como se desde a pandemia as pessoas estivessem cada vez mais carentes por emoção, aflitas por sentirem alguma coisa, qualquer coisa que se sinta, parafraseando Arnaldo Antunes. Então shows como esses vem em boa hora. Eu espero que os próximos shows não demorem tanto a acontecer, que produtores e casas de shows locais abram cada vez mais espaço para artistas independentes.

É verdade que eu ficarei bem órfã quando o projeto Wagner Almeida tiver seu fim, no lançamento do próximo e último álbum, conforme anunciado em seu Instagram. Me acostumei mal com tantas músicas boas lançadas em um curto período de tempo, com a certeza de que em breve eu terei um álbum fresquinho e muito agradável me esperando. O Wagner deixou seus fãs mal acostumados.

Com quais músicas irei chorar e ao mesmo tempo alinhar meu chakra daqui pra frente? Lamúrias à parte, desejo boa sorte e confio que todos os próximos projetos que ele lançar e participar terão a mesma qualidade e bom gosto de tudo que ouvi até agora. A fã continuará por aqui para o que der e vier. Me despeço com saudades desse show que já se passou e esperando ansiosamente pelos próximos. Até breve!

Setlist Wagner Almeida:

Cabo Frio
Frank Ocean
Sob Nova Direção
Medo de Voar
Faces, Lugares
Avenida
Férias
Afogar
Acordar
Peixe Grande
Ao Meu Melhor amigo
33

Setlist Fábio de Carvalho:

Fogo
Mão Vermelha No Coração da Noite
Obsessor
Imagens (Jards Macalé)
Sábado
Sobre uma festa
Paz Imensa
O amor é

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