O começo de 2020 veio com a esperança de ótimos lançamentos, especialmente discos de shoegaze, mas nos próximos meses com a pandemia e tudo mais, nem sabíamos mais o que esperar e se realmente as bandas continuariam lançando materiais novos.
Felizmente muitos artistas já vinham produzindo discos novos ou conseguiram durante a quarentena, mesmo com as dificuldades que o tempo trouxe, a impossibilidade de se encontrar ou ir até um estúdio por exemplo, para isso tiveram que se readaptar.
Todos devem estar acompanhando os ótimos discos que continuam surgindo, e nós aqui do Rebobinados separamos alguns discos de shoegaze que foram lançados em 2020 e salvaram o gênero. Alguns muito esperados como o novo do Wry, Nothing e Ringo Deathstarr e também outras novidades, como a brasileira Ousel e o Deserta.
Você pode conferir essa bela listinha logo abaixo. Se você não conhece ou ainda não escutou algum deles, essa é a hora!
E conta pra gente, qual seu disco de shoegaze favorito de 2020?
Ringo Deathstarr – Ringo Deathstarr
O Ringo Deathstarr é uma das bandas mais interessantes do shoegaze atual, eles surgiram em Austin, Texas no ano de 2005. Fizeram bastante barulho (literalmente) com seu primeiro álbum ‘Colour Trip’, lançado em 2011, que inclusive os deu bastante reconhecimento.
Esse é o quinto disco depois de cinco anos sem lançar nada. Aqui, eles continuam fiéis ao estilo, dosando momentos mais barulhentos e com bastante distorções como na faixa ‘Gazin’, ou mais etéreos onde a baixista e vocalista Alex Gehring também assume os vocais, como podemos ouvir em ‘Disease’ e ‘In Your Arms’ e ‘Heaven Obscured’.
Pra quem gosta de um som mais retrô anos 90, encontramos em ‘Be Love’ batidas eletrônicas, guitarras barulhentas e vocais inaudíveis que funcionam como texturas de fundo para a música.
Hum – Inlet
Formado há 30 anos atrás em Champaign, Illinois. O Hum já teve duas pausas durante sua carreira, sendo que voltaram recentemente em 2015. Durante o tempo de banda lançaram bastante material, são cinco álbuns no total.
‘Inlet’ é o quinto disco, e o primeiro desde o retorno. Podemos dizer que a sonoridade caminha para um post-hardcore, com alguns toques mais espaciais na guitarra, influência vinda do shoegaze. No entanto, são as distorções pesadas que mais tomam conta das músicas como na faixa ‘In the Den’, inclusive são faixas bem longas, mas a progressão do instrumental é boa.
Em ‘Desert Rambler’ por exemplo, com seus nove minutos de duração, ouvimos uma pegada cadenciada, com quebras para riffs melancólicos, sombrios e até uns synths ambientes que dão um clima bem viajante.
Ousel – Ousel
A Ousel é uma banda relativamente nova, surgiu na cidade de Goiânia em Goiás em 2016, e agora lançaram seu disco de estreia, o auto intitulado ‘Ousel‘.
O álbum contém 8 músicas que traduzem sentimentos, fragilidades e emoções diante das relações humanas. Sua sonoridade passeia pela calmaria e beleza do dream pop, aliada a atmosfera sonhadora e nostálgica do shoegaze.
Tudo é muito bonito e bem composto, mostrando de cara um baita potencial, o que já nos faz colocar a banda entre os destaques de melhores discos de shoegaze desse ano.
Wednesday – I Was Trying to Describe You to Someone
O que antes era apenas um hobbie dos integrantes Karly Hartzman (guitarra, vocal) e Daniel Gorham (guitarra), se tornou uma banda completa (agora são um quinteto). O Wednesday surgiu em 2018, e com o lançamento do primeiro disco Yep, Definitely (2018) ganharam certa atenção.
Em 2020 eles lançaram seu segundo disco ‘I Was Trying to Describe You to Someone’, o primeiro como banda, afinal, antes eram apenas um duo. As oito músicas tem elementos não só do shoegaze, mas também do grunge e indie pop.
Os vocais de Karly nos lembram algo daquelas bandas lideradas por mulheres durante os anos 90, inclusive, o The Sundays é uma das grandes influências deles, talvez esse seja o motivo de percebermos esse clima nostálgico. A faixa ‘November’ tem um clima mais dark, melancólico, porém muito bonito.
Wry – Noites Infinitas
O Wry que surgiu nos anos 90, uma das épocas de ouro da música alternativa, e é um dos principais nomes do rock alternativo nacional, também vem alegrando seus fãs desde que voltaram a ativa. O último disco lançado foi o belo ‘She Science’ de 2009.
Em ‘Noites Infinitas’, seu quinto disco de estúdio, a banda traz 10 músicas. A capa de clima obscuro faz jus aos tempos que vivemos. As composições tiveram início em 2017, com letras em português e inglês que abordam temas tão atuais como o conservadorismo, que é algo forte na cidade de Sorocaba onde vivem, a ansiedade e também a esperança de uma saída em meio a todo esse caos.
Falando em sonoridade, aqui eles mesclam elementos do shoegaze, dream pop e rock alternativo, fórmula que sempre deu certo e os colocam entre uma das melhores bandas nacionais da cena alternativa.
Holy Fawn – The Black Moon
Outro nome relativamente novo na cena do post-rock/shoegaze é o Holy Fawn. O quarteto vem do Arizona, EUA e estreou em 2018 com o ótimo debut Death Spells. A banda traz diversos elementos para suas músicas, vindos do metal, post-rock e shoegaze.
Na verdade, The Black Moon (2020) é um EP com três faixas, mas mesmo assim pode ser considerado um dos melhores lançamentos desse ano no gênero. A primeira faixa ‘Candy’, abre o disco com uma introdução pesada, que nos lembra algo do post-black metal, misturando peso com melodias mais obscuras, bonitas e também alguns guturais.
Em ‘Tethered’ o clima muda, com uma sonoridade mais ambiente, seguida de ‘Blood Pact’, que inicia em um ritmo mais lento, melódico e depois vai evoluindo até chegar ao pico de guitarras mais barulhentas e vocais rasgados.
Deserta – Black Aura My Sun
Se você sente falta daqueles discos de shoegaze da década de 90, feito por bandas como Slowdive e Cocteau Twins, então esse disco é pra você, ele é a combinação perfeita de melodias barulhentas e sonhadoras que se desdobram durante as 7 músicas do álbum.
Podemos considerá-lo um dos melhores lançamentos do ano, a estreia de ‘Black Aura My Sun’ resgata a sonoridade do fim dos anos 80 e começo dos 90. Suas guitarras cheias de nuances sonhadoras, movimentos cadenciados, leves, melodias bonitas, emotivas e vocais bem etéreos, são claramente influenciadas por Cocteau Twins, que é um dos principais nomes do gênero.
A banda surgiu recentemente na cidade de Los Angeles, na Califórnia, em suas composições trazem temas como a vida, o amor e a paternidade.
Nothing – The Great Dismal
Já bem conhecidos na cena shoegaze/indie, o Nothing retorna após dois anos desde seu último lançamento ‘Dance on the Blacktop’. A banda que está na ativa desde 2010, lança agora seu quarto e aguardado disco ‘The Great Dismal’.
O novo álbum se destaca, primeiro pela produção que é superior ao anterior, e também por trazer mais elementos do shoegaze em algumas músicas. A faixa ‘A Fabricated Life’ que abre o disco tem um clima emocional, bonito, podemos ouvir som de cordas, talvez harpas e guitarras com suas distorções fazendo um ótimo plano de fundo.
Outro destaque é ‘April Ha Ha’ introduzida pela bateria ”ta ta ta ta ta ta ta”, remetendo a ‘Only Shallow’ do My Bloody Valentine, no mais o som da banda continua caminhando entre peso e boas melodias.