Dramón é um projeto de música experimental criado em 2018 e liderado por Renan Vasconcelos. O músico, designer gráfico e produtor nascido no Rio de Janeiro, também já foi membro da banda de post-rock Avec Silenzi com quem gravou cinco discos de estúdio.
Fugindo totalmente dos conceitos padrão, o artista explora climas e texturas, criando ambientações que divagam entre o rock e a música eletrônica. Com esse projeto ele já lançou quatro EP’s, são eles: Ansiedade Morte (2018), Equilíbrio Utopia (2019), Afã (2020) e Bétula // Membrana (2021).
A música experimental é um gênero pouco difundido no Brasil, e ainda que tenhamos vários artistas produzindo ótimos materiais, continua sendo um tipo de som não muito compreendido pelo público. Fato que acaba criando muros, impossibilitando a expansão de novas sonoridades que fogem do padrão convencional de estilos que já conhecemos.
Àspero e suas paisagens sonoras
Batizado de Àspero, o álbum é composto por oito músicas que te levam para algumas dimensões e criam sensações profundas, mas não pense que esse é um disco difícil de digerir, pelo contrário, o fato das músicas não serem longas demais colabora para que a sua audição seja muito prazerosa, contribuindo para que possamos perceber todos os detalhes e elementos construídos.
As canções estão todas conectadas em si, sendo assim, a sensação é de embarcar em uma viagem que te conecta com momentos de angústia, medo e outros mais aéreos.
A faixa título ‘Àspero‘ abre o disco embalada por um instrumental tenso que logo evolui para um som que nos faz lembrar bastante o trip-hop, envolta por um clima noire, ela imediatamente faz com que surjam imagens de uma caminhada solitária por cenários urbanos, cinzentos e chuvosos.
Em seguida, ‘Vencer o Sol‘ vem surgindo como um eco distante até nos penetrar com riffs de guitarra angustiantes e de tom obscuro, onde as cores parecem não existir.
‘Descompasso‘ aos poucos range na sua mente e abre as portas do desconhecido, misterioso, com camadas de sons que vão surgindo a cada momento até partir para alguns instantes de luz, como se você encontrasse uma saída em meio a um corredor sem fim.
As coisas mudam em ‘Inflexível’, os toques aéreos de guitarra vão se fazendo presentes e reverberando juntamente com linhas de teclado, criando um certo sentimento de contemplação, que pode trazer uma sensação de flutuar sob o próprio corpo.
Batidas cadenciadas e um baixo sombrio surgem enquanto guitarras rangem de fundo, em ‘Ecos do Vazio‘ somos agraciados também por vocais hipnóticos vindos de algum lugar desconhecido e que duelam com um instrumental bonito e sombrio. Já em ‘Insônia‘ entramos em um estado de transe enquanto os riffs de guitarra vão caminhando lenta e suavemente ao decorrer da música.
‘Atenção, Atenção!‘ traz batidas pulsantes e uma sonoridade mais minimalista, num tom bem enigmático que aos poucos cria uma ponte para ‘Pelas Paredes da Memória‘, que vai marchando e passando por climas de tensão e te colocando novamente em um estado de inquietação com si mesmo.
Àspero é um disco intenso e que experimenta com vários climas, desde beats eletrônicos, sintetizadores e guitarras que vão alternando em momentos mais sinistros ou sonhadores.
Ele vai construindo paisagens sonoras que dialogam muito com os tempos obscuros que vivemos, funcionando como trilha sonora diante dos vários pensamentos e emoções que nos rodeiam e que muitas vezes não sabemos lidar.
Ele te leva para caminhar por espaços que muitas vezes você procura se afastar, mas que estão aí e precisam ser descobertos, pois é acolhendo o desconhecido e o desconfortável que conseguimos equilibrar o nosso estado emocional.
Foto da matéria por:
Rodrigo Gianesi (@rodrigogianesi)
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