Melhores discos nacionais de 2024

Como prometido, continuamos com nossas listas de fim de ano, dessa vez, trazemos os melhores discos nacionais de 2024 na nossa opinião.

2024 foi um ano legal pra conhecer artistas novos da cena brasileira, e tem trabalhos aí que com certeza vão ficar marcados por muito muito tempo.

Amaro Freitas – Y’Y

Imagem de Amaro Freitas  imerso na água com o título em amarelo Amaro Freitas.

Y’Y é o quarto disco de Amaro Freitas, pianista, tecladista, compositor e arranjador nascido na cidade de Recife, em Pernambuco.

“Esse disco tem uma atmosfera muito singular e profunda com as raízes indígenas, Amaro conseguiu transmiti-las muito bem através de sua música. A sensação ao ouvi-lo é de realmente se conectar com algo sagrado. Como se você ficasse imerso naquele universo sonoro e captasse toda aquela energia que os instrumentos e diferentes sons vão emanando. Definitivamente um dos trabalhos mais bonitos que já ouvi”



Rogê – Curyman II

Imagem de um homem jogando com um bola de futebol.

Rogê é um músico e compositor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro. Ainda que já tivesse suas fortes conexões com a música, foi nestes últimos anos que ele realmente alcançou outro patamar.

“Eu já tinha visto essa capa em algum lugar na internet, de primeira não me pegou muito, mas fiquei curioso. Mais tarde, encontrei com ela novamente em uma lista de melhores do ano. Era o que eu precisava para ir atrás mais uma vez. E realmente afirmar, que esse é um dos melhores discos brasileiros que ouvi em algum tempo. Ele é totalmente brasileiro, tem um pouco de tudo ali, da mpb, do samba, das raízes africanas, um ótimo representante da música brasileira atual.”



Tagore – Barra de Jangada

Imagem de Tagore dentro de um rio.

Tagore é um dos grandes representantes da psicodelia nordestina. Se você conhece Ave Sangria, Lô Côrtes e Marconi Notari vai se identificar rapidamente.

“Barra de Jangada é o terceiro trabalho de estúdio, e veio numa pegada totalmente diferente, se compararmos aos trabalhos anteriores. Acontece que aqui ele funciona meio que como uma trilha sonora do fim dos anos 80 e começo de 90. Lembra bastante aquelas trilhas com belas músicas compostas por Ivans Lins e Sá & Guarabyra, por exemplo. Eu particularmente gosto muito, acho nostálgico, bonito e sensível. O feat na faixa Azul Perfume é um dos mais bonitos que já ouvi.”

Oruã – Passe

Imagem com a pintura de um gato nos tons branco, amarelo, laranja, verde e vermelho

Oruã é uma banda do Rio de Janeiro, formada por volta de 2016 e que chega ao seu quinto disco de estúdio.

“Já na primeira audição tive certeza que, pra mim, Passe era um dos melhores discos nacionais do ano. Isso devido a sutileza com que o álbum se desenvolve. Dos climas psicodélicos ou ruidosos que flertam com o noise, pós-punk e krautrock. Os vocais de Lê Almeida, ainda que bem singelos, funcionam como uma camada a mais para a sonoridade. Procure escutar Caboclo e Brutos Amores, e você saberá do que estou falando.”



PAPISA – Amor Delírio

Imagem da cantora Papisa de costas e um fundo roxo

Amor Delírio é o segundo álbum de estúdio da cantora paulista e um clássico moderno.

Com suas letras sobre desilusões amorosas, como o próprio nome sugere, o álbum nos toma de supetão pelo hit “Dores no Varal”, que dita como vai ser a sonoridade ao longo de toda a jornada de quase 30 min. Papisa nos conta a história triste de um relacionamento, mas de uma forma leve, com sua voz doce e envolvente, acompanhada de um instrumental bem oitentista, bebendo da fonte do dream pop, mas um pouco menos lento, com batidas mais animadas. O triste também pode ser bonito aqui, leve, como alguém que te pega pela mão no meio da chuva e te faz sorrir. Se você gosta de Terno Rei, Carne Doce e Marina Lima, esse álbum é pra você.



BEBÉ – SALVE-SE

Imagem de ponta cabeça da cantora Bebé deitada em um fundo preto

A primeira vez que ouvi Bebé achei bem intrigante, uma mistura de R&B, pop, rap, num clima meio experimental, misterioso. Ao vivo eu pude afirmar que ela era uma das melhores artistas atuais.

SALVE-SE é o segundo trabalho dessa jovem artista, uma baita potência, aquele tipo de som que sai da caixinha do que artistas estão acostumados na cena nacional. Eu gostei de Bebé justamente porque ela é ousada, consegue trazer ótimas referências musicais pro seu som, é autêntica, sentia falta de pessoas assim na música. O que posso dizer é que esse disco manteve sua qualidade, espero que ela continue sendo reconhecida por seus trabalhos e trazendo um frescor pra cena nacional.”

Giovanna Moraes – fama de chata

Imagem da cantora Giovanna Moraes fazendo uma careta em um fundo verde

O último álbum de Giovanna Morães, cantora Paulista que atua desde 2017, virou sucesso no tik tok, mas não da pra resumir o que o som dela significa em 2024 a isso simplesmente.

“Surgiram muitos sons inovadores/diferentes dentro do rock alternativo nacional nos últimos anos. Alguns não ganharam tanta atenção quanto outros, e claro que ganhar ou não atenção não é critério de qualidade, e vice-versa. Falar de ‘cara de chata’ é quase metalinguístico, já que algumas faixas têm um certo tom de anticrítica (longe desse excerto sobre o álbum ser considerado uma grande crítica analítica), mas é um grande e incrível amontoado de antíteses, com letras óbvias, mas sobre coisas que ainda não foram ditas, com um som fácil de digerir e familiar (lembra alguns hits da década de 2000, que tocavam nas edições de Malhação, como Pitty e Luka — isso é só uma constatação pessoal, sem demérito ao som).

Depois do boom do shoegaze e do dream pop no rock alternativo, que aconteceu nos últimos anos, é muito bom ouvir sons de qualidade que vão para caminhos opostos a esse. Não conheço os outros trabalhos da Giovanna, mas com certeza me deu vontade de acompanhar a carreira dela daqui para frente.

Silvia Machete – Invisible Woman

Imagem da cantora Silvia Machete em frente a uma entrada de vidro

Silvia Machete é uma multiartista carioca que entrega um trabalho sofisticado, profundo, conciso, constante e que experimenta na medida certa; uma verdadeira bossa nova noir.

Ao longo de suas onze faixas, “Invisible Woman” exala um tom noir único, mesclando bossa nova, soul, jazz e outras influências. O resultado é uma trilha cinemática, rica em nuances, capaz de despertar diversas sensações. A curiosidade pelo que vem a seguir é constante. Cada faixa conta uma história completa, com início, meio e fim, passando por todos os sentimentos que uma boa história precisa ter. Uma das faixas ainda inclui um monólogo (não confundir com spoken words), que imerge o ouvinte em um universo lúdico, te puxa pra dentro da história. É impossível terminar o disco sem que você ou seu corpo sintam algo (mesmo em inglês, as músicas ainda mantêm o gingado brasileiro).



Boogarins – Bacuri

Imagem de uma pintura em tons de branco, azul, verde e amarelo

Após cinco anos, Boogarins apresenta o inédito Bacuri

É um disco cheio de hits, que sonoramente caminha na marginalidade do mainstream (como a maior parte da cena alternativa), mais fácil e clean do que os antecessores (principalmente Lá Vem a Morte, de 2017), mas não fácil a ponto de tocar numa C&A da vida. A mais diferente e que dá nome ao disco, Bacuri, é uma grande surpresa, onde ouvimos o Ynaiã encaixando, além da bateria, sua voz forte e ressonante, apresentando em certos momentos quase uma música drone. O restante do disco tem músicas que soam familiares e que fazem um ótimo recorte do caminho que o rock nacional (ao menos o mainstream marginal‘) tem tomado. A minha favorita do disco é ‘Chrystian e Ralf (Só Deus Sabe)’, que em alguns trechos iniciais me recordou ao antigo Gram (que amo de paixão). Disco novo do Boogarins é quase um evento para quem conhece, e mais uma vez os goianos mostram o motivo de serem referência.

Tuyo – Paisagem

Imagem dos integrantes correndo em uma praia vazia e com céu azul.

O terceiro disco do trio Tuyo apresenta uma mistura incrível de pop, eletrônica e tons oitentistas.

“Alternando entre lindas melodias e beats dançantes, somos transportados para uma viagem quase espiritual em “Paisagem”. A parceria com Luedji Luna, que dá nome ao álbum, é uma das melhores gravações do trio. É tudo muito bem produzido, desde a distribuição de tantos sons que ouvimos ao longo da música, das passagens de Soares para Luna até a letra, que fica martelando na cabeça depois de uma ouvida. Ouvir Tuyo é como ouvir uma junção de digital e analógico; mesmo com muitos sintetizadores, nada fica de plástico. Todo trecho de som é palpável e cheio de significado.

Adorável Clichê – Sonhos nunca morrem

Imagem de uma criança em uma mesa junto de um prato e xícara, com efeito retrô e algumas estrelas.

Já escrevemos sobre a Adorável Clichê, banda de Blumenau (SC) de shoegaze erock alternativo e sobre o disco lançado em 2018 chamado O que existe dentro de mim.

Para essa humilde pessoa que vos escreve “O que existe dentro de mim” é um dos melhores discos do shoegaze nacional já feitos. E “Sonhos que nunca morrem” foi lançado para que esse top discos ganhasse mais um forte concorrente. Uma aposta certeira da Balaclava Records foi trazer Adorável Clichê para o seu casting, uma banda excelente, com belos vocais e melodias tocantes, trazendo inúmeras possibilidades para que a banda alcance novos voos e novos públicos.

Esse lançamento trouxe o conforto do shoegaze já conhecido, porém se reinventando em novas melodias e letras, com muita originalidade, sem se repetir jamais. Um frescor e juventude que há algum tempo eu não via nos lançamentos mais recentes. Amarga por enquanto é o destaque e minha música preferida do disco. E sem contar que é uma absoluta delícia ouvir essas músicas ao vivo, mal vejo a hora de ouvir o que mais a Adorável Clichê tem para nos mostrar.