Quando o Fábio me convidou pra ajudar a escrever no Rebobinados, eu me animei demais com a ideia de poder falar de música e de poder ajudar a divulgar artistas que eu sempre admirei, e que sentia que mereciam mais reconhecimento. Na verdade, ainda tem muita coisa boa nesse país que a gente não conhece, mas que iremos achar, admirar e prestigiar. Muita gente que, na maioria das vezes, compõe, grava, mixa, masteriza sozinho tudo que faz. É um trabalho enorme, que merece ser reconhecido. Esse é o caso dos artistas dessa matéria. Gente muito boa, talentosa demais e querida. E eu sugiro fortemente que você dê uma atenção especial para essa galera aqui, porque vale a pena demais!
Menir
É o projeto solo do João Affonso Dias de rock alternativo/experimental/lo-fi. Em setembro de 2016, ele lançou um disco muito bacana, o Monolito, no qual ele experimenta, se conhece e se expressa, fugindo do óbvio e nos cativando.
É curioso perceber que o significado de menir é, em resumo, “um grande bloco de pedra de altura elevada que é cravado verticalmente no solo” e monolito “monumento ou obra constituída por um só bloco de pedra”. E como ao longo do disco, a aparente ideia de solidez e impenetrabilidade da rocha se desfaz, por exemplo, em Retroação transparece a fragilidade, especialmente no trecho “Aquele ninho que se escondia, era só pra o proteger de tudo, exceto de si”. E eu sempre acho o máximo quando o artista nos permite conhecê-lo, pelo menos um pouquinho, conforme aquilo que faz. O João consegue transmitir com muita verdade aquilo que sente e isso realmente toca quem ouve.
E eu tive o prazer de ouvir algumas demos do próximo lançamento, então espera que em 2018 vem barulho excelente bom por aí.
Ana Paula
É o projeto de emo/rock triste/alternativo da sorocabana Ana Paula. Seu primeiro disco, Atelofobia, lançado em julho desse foi uma das melhores surpresas que descobri por meio de amigos.
A atelofobia “é um tipo de fobia caracterizada pelo medo de não ser bom o bastante ou não se sentir suficiente”. E a Ana consegue expressar tudo muito bem todos esses sentimentos de imperfeição, incompletude e incapacidade, numa voz extremamente doce e suave. Suas referências como Julien Baker e American Football transparecem bastante em suas músicas. Ao meu ver, a Ana promete trazer um ar novo e revigorado que a música independente desse estilo estava precisando.
And the night never came
É o projeto do Gustavo Mazuroski de música alternativa/eletrônica/industrial/post-punk/post-rock e noise de Curitiba.
Ele tem dois trabalhos lançados até agora, o Veneno EP lançado em 2015 e o disco wolves of ill omen lançado em 2016. O último disco traz muitas referências a Chelsea Wolfe, Russian Circles, Have a Nice Life, Nine Inch Nails e Portishead, que distanciam de qualquer coisa que eu tenha visto na cena independente nacional e se aproxima bastante da estética de bandas independentes do metal internacional. O disco é extremamente bem feito, me faz lembrar muito de Les Discrets, não exatamente da música em si, mas da maneira com que o Gustavo consegue transmitir sua música em imagens, como se realmente um filme estivesse passando pela minha cabeça. Acho isso magnífico porque torna a experiência completa e mostra a preocupação com a arte.
Lucas Brasil
O Lucas Brasil é um artista do Rio Grande do Sul. Seu estilo alternativo e lo-fi produziu o EP demos e erros, um compilado de músicas que ele compôs entre 2014 e 2016. Gosto muito desse compilado, porque ele consegue se expressar sua melancolia de uma maneira simples e direta, vai direto ao ponto e consegue me tocar com suas melodias muito bem feitas.
Em setembro desse ano, ele lançou o single Manutenção pela Boiola Records, um novo selo independente muito legal com ótimos artistas no casting, o selo nasceu da “vontade de unir e viabilizar o rolê pra músicos e artistas visuais que a princípio não teriam espaço dentro de um cenário que é elitista, misógino, homofóbico, transfóbico e racista.”
LVCASU
O LVCASU é o projeto Lucas Silva de música emo/lo-fi/alternativa de São Paulo
Eu já o mencionei aqui no blog algumas vezes, mas até hoje eu não pude recomendá-lo da maneira correta. Seu disco Capacho, lançado em 2016 foi um dos cds que eu mais ouvi esse ano, e que pude ver alguns shows também. Todo clima “sadcore” que envolve o álbum, o sentimento que me traz é como se a gente estivesse colocando pra fora tudo aquilo que nos faz mal, que nos aprisiona e nos maltrata. É como finalmente gritar aos quatro ventos tudo que estava te sufocando, ou como cantar bem alto e pular bastante ao som da sua banda preferida. E se libertar de tudo isso traz um alívio enorme.
O split Cisma lançado no final de 2016 juntamente com o Vinicius Mendes também muito bacana, um tanto mais alegre e dançante, com referências ao synthpop. Mas acredito que o melhor esteja guardado para o ano que vem. Pudemos ter uma prévia do que vem por aí com Velvia, single lançado na mixtape da Pessoa que Voa, o Diário de Bordo Vol. I, e a perspectiva é incrivelmente boa.