Terraplana já salvou o shoegaze com álbum “natural” (2025)

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Terraplana, como já escrevemos aqui, é uma das bandas que veio salvar o shoegaze nacional. E salvou muito bem. Em 2025, decidiu salvar novamente. E esperamos que continue salvando todos os anos.

É um orgulho tremendo ver uma banda que acompanho desde o comecinho crescer tanto, se desenvolver tanto, ganhar muitos fãs de bolhas que ultrapassam o que a gente conhece como cena, estourar no Tiktok e em canais de esquerda (proletários de todos os países, uni-vos em prol do shoegaze). Ver pessoas jovens e mais velhas curtindo os shows, comprando merch e compartilhando esse som tão incrível.

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Mais incrível ainda é vê-los alcançando sucesso internacional, fazendo shows nos EUA e não duvido nada que logo mais tenhamos turnê na Europa. Me enche de satisfação e orgulho ver o shoegaze brasileiro sendo reconhecido internacionalmente por pessoas tão legais e comprometidas com seu som e sua essência. Nos faz lembrar do poder da música e de como ela pode transformar as coisas pra melhor. Eu não tenho palavras, mas vou tentar achá-las, prometo.

O lançamento do disco “Natural” é um fenômeno que você não pode perder. Para mim, esse disco tem muita vibe de filme independente jovem alternativo, coming of age, vivendo na cidade, aproveitando a noite, uma experiência introspectiva e solitária.

Apesar de eu ser muito fã de um reverb na voz, a Terraplana diminuiu consideravelmente esse efeito, também diminuiu as paredes de som que levavam esta jovem senhora que vos escreve à loucura. Um dia eu faço um movimento para trazer as paredes de som pesadonas de volta, mas hoje é o dream pop quem vai protagonizar.

Shoegaze ou a mistura com seu primo mais acessível – dream pop – é a língua dos anjos, pode muito bem ser entendido e cantado junto perfeitamente nesse álbum. Nele também temos uma presença mais marcante vocalmente do Vinícius Lourenço, nosso Kevin Shields brasileiro, em faixas como “Amanhecer”, que é uma das músicas que eles já estavam tocando em shows há algum tempo. Gostei muito de ouvir as vozes mais presentes e pulsantes, apesar de dificilmente eu não gostar de algo que eles lancem. Neste caso, não há certo ou errado, mas o diferente é bacana.

“Charlie” foi uma excelente escolha para ser um dos singles lançados antes do álbum completo. O refrão me traz uma sensação de familiaridade, e não é só porque acompanho a Terraplana desde o comecinho, mas por essa vibe noventista e nostálgica, aquela sensação de achar que viveu coisas que só viu nos filmes.

O baixo de “Hear a Whisper”, começando super pujante, mostra que a escolha da Stephani Heuczuk como uma das inspirações da nossa lista de mulheres baixistas não foi à toa. E ter trazido a querida e adorável Winter para essa colaboração foi uma escolha muito certeira. Foi uma forma de trazer uma artista brasileira talentosíssima que brilha na cena independente americana e, ao mesmo tempo, uma maneira de a Terraplana ser mais conhecida e divulgada lá fora.

Cantando em inglês ou português, shoegaze é a língua dos anjos, e, assim como nós apreciamos um bom shoegaze japonês, chinês e coreano sem entendermos nada do que está sendo cantado, os gringos também podem apreciar nossa música.

“Todo Dia” me traz uma vibe muito dream pop, ainda mais com a combinação dos vocais da Ste e do Vini, alternados, às vezes funcionando como um diálogo, com uma melodia mais calma, cada um cantando sua parte e se complementando lindamente.

“Desaparecendo” é um dos pontos altos para mim: mais pesadona, com mais paredes de som como a gente gosta, um vocal mais reverberado, muito forte e muito presente. Possivelmente, uma das músicas que a plateia mais vai gostar nos shows.

“Horas Iguais” segue com o baixo pesadão, guitarras mais limpas, com foco total no refrão, que gruda muito facilmente na cabeça. E riffs muito bons que te fazem querer voltar a tocar guitarra. Assim como “Airbag”, que vem em sequência no álbum, começando mais presente e pesada, me trazendo referência a outro álbum célebre, “Frog in the Boiling Water”, do DIIV. Não sei se chegou a ser uma referência para eles, mas continua muito presente na minha cabeça e eu ainda continuo completamente obcecada.

“SNC” também é outra faixa que traz os vocais do Vini mais presentes, contrastando muito bem com a doçura dos vocais etéreos da Ste e um efeito de pedal muito interessante, certamente trazido pelo Cassiano Kruchelski, que manda muito bem nas guitarras desse disco, com muita inspiração e talento. Eu também não poderia esquecer das baterias do Wendeu Silverio, que brilhou muito e foi crescendo e se desenvolvendo a cada álbum, mostrando seu talento e desenvoltura ao longo dos discos.

“Morro Azul” nos despede desse álbum, mostrando que a Terraplana não é uma das minhas bandas preferidas à toa. É um orgulho tremendo poder presenciar o desenvolvimento desses jovens, vê-los tocando em outros países, ver cada vez mais pessoas andando com a camiseta deles no metrô, ver muita gente se apaixonando e se conectando também com esse som maravilhoso.

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Eu não posso dizer que “Natural” superou, para mim, o que foi “Olhar pra Trás”, já que esse é simplesmente o disco mais perfeito e sem defeitos lançado neste país. Porém, foi mais um excelente lançamento da nossa querida Terraplana. Eu ainda não superei “Olhar pra trás” e acho que vai demorar para que outro lançamento ocupe esse lugar tão cativo no meu coração, porém “Natural” pode facilmente figurar em segundo lugar, coração de mãe sempre cabe mais um álbum.

Com certeza, vai ser incrível poder ouvi-lo ao vivo e cantar junto em abril. Aguardo vocês em São Paulo, Terraplana. Voem muito e ganhem o mundo, vocês merecem, meus queridos.

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