Artista/Banda: Nycolle Fernandes
Álbum: When the Sun Comes
Gênero: Folk / Alternativo / Ambient / Instrumental
Ano: 2016
Destaques: I’m so confused / In Limbo
por: Gabriel Marinho
Nycolle Fernandes é uma musicista de São Paulo, que teve seu primeiro lançamento em 2016 com o EP “When the Sun Comes”, mas antes disso já fazia covers de bandas grunge no soundcloud, como Alice in chains e Silverchair, mostrando um pouco de suas influências e alcançando mais de 7 mil audições apenas nessa plataforma, ganhando seu espaço na cena undeground lo-fi; é dela e de seu primeiro EP que falarei um pouco hoje.
Conheci o trabalho da Nycolle em um grupo de shoegaze no facebook, em meados de 2015, naquela época o primeiro som que ouvi foi “I’m so confused”, música que viria a entrar em seu primeiro EP e que seria a primeira faixa do disco.
A música começa com um dedilhado que ecoa forte a cada nota, é um som ambiente, soturno, leve e ainda assim um pouco angustiante, que por muito soa quase como um shoegaze devido a distorção vocal que acompanha os acordes, a única com vocal presente no disco.
É um som sincero e palpável, sendo possível sentir o sentimento que ela quer passar, aqui o minimalismo torna a música muito grande, os versos que ecoam ao longo da faixa ficam por um bom tempo na cabeça ao fim da audição.
A segunda faixa do disco, “In limbo”, soa como uma viagem dentro de um túnel, é um som místico, cada slide que Nycolle faz é acompanhado de sensações, de melancolia.
Uma das melhores do ep, aqui ela marca fortemente sua personalidade sonora, que na questão de influência, me lembra alguns sons do Elliott Smith, ou ainda os sons que o John Frusciante fez ao sair do Red Hot Chili Peppers.
A terceira faixa é cheia de suspense, soa como uma trilha sonora de um filme, Nycolle nos conta uma história através das notas de sua guitarra, como o nome sugere: “Sunset’s Shadows on the city”.
Traz uma sensação de estreitamento nas sombras, minha visão é de que elas se escondem nas sombras, tem dias que não conseguimos enxergar uma saída dos problemas da vida e eles nos encobrem por muito tempo, a atmosfera da música cria essa ambientação propicia perfeita e uma cena se cria facilmente na mente, bastando fechar os olhos e se guiar pelo som. Sei que a Nycolle não escuta Katatonia, mas me lembrou um pouco a fase deles do Brave Murder Day, que é um doom metal bem soturno.
“Moon and Mountains”, última e quarta faixa do disco, é um lindo folk, soa como uma caminhada, uma trilha na floresta, que começa a passos largos e logo se aperta correndo, uma perseguição, uma busca dentro de si.
Mais uma vez de forma minimalista e profunda, a guitarra de Nycolle Fernandes fala e ressoa; em certos momentos é possível ouvir como se fossem gotas e um ponteiro ao fundo, acompanhando cada toque de seus dedos sobre a corda, é um mistério que perpetua a música toda, finalizando de forma perfeita o disco.
“When the Sun Comes” é um disco intimista e muito pessoal, que da o ponta pé inicial na discografia de Nycolle Fernandes.
Aqui somos levados a uma viagem em nosso subconsciente de forma soturna, misteriosa e muitas vezes mística; a melancolia que com certeza iremos encontrar nessa audição por vezes desperta fortes sensações, o que exige de quem estar ouvindo esforço para olhar para si enquanto é guiado por cada acorde, o que torna o ambiente pesado e bonito ao mesmo tempo, parafraseando Melancolia (filme de Lars Von Trier):
“Melancolia irá simplesmente passar sobre nós e será a mais linda das visões”