Confesso que me senti bastante honrada e emocionada quando o Wagner me mandou o EP para que eu pudesse resenhar aqui no blog. Eu não costumo resenhar muito e talvez você nem possa chamar o que eu faço de resenha. Mas o que eu sei é que eu sempre escrevo sobre aquilo que eu gosto. E as músicas do Wagner são uma das coisas que eu mais gosto na música brasileira.
Foto: Amanda Barros
Solta o play:
Youtube:
https://youtu.be/yoPv1I6qWrs
Spotify: https://open.spotify.com/album/2sYSTuY8Fjpy4LnmsIyamk
É incrível como a arte toca a gente. Sempre me pego admirando como um artista coloca todas suas frustrações, angústias e tristezas em uma música e a nós do outro lado dos fones conseguimos sentir e entender exatamente o que ele está falando. Wagner faz parte de uma geração de artistas extremamente talentosos e jovens. Quando eu olho para o Crescimento/Desistência (2018) e para o Domingos à Noite (2019), eu sinto o maior orgulho da galera da minha idade ganhando o mundo com a música, me sinto privilegiada por ter conhecido uma pessoa tão legal e sincera sobre seus sentimentos.
Nada mais real do que escrever, gravar e produzir suas músicas sozinho ou com ajuda de amigos, nada mais sincero do que o som alternativo independente. É sempre você contra o mundo. E eu acho que também deve dar um orgulho danado pro outro lado perceber que não está sozinho, que tem muita gente apoiando e curtindo o trabalho. Acho que é para poder fazer essa conexão e para que todos possam se unir que eu escrevo. É só por isso que a gente faz o que faz.
Sonho Violento me lembra bastante o som dos diversos trabalhos do Phil Elvrum (Mount Eerie, The Microphones). As músicas me soam tristes, mas é uma tristeza acolhedora. É como aquele abraço reconfortante depois de um dia ruim. E eu me senti bastante reconfortada pelas músicas dele esse ano. Um ano difícil não só pra mim, mas para muitos amigos e conhecidos meus. Um ano que nós não sabíamos se conseguiríamos chegar ao fim, mas chegamos e aqui estamos. Meio baqueados, mas vivos o suficiente para ouvirmos esse álbum e nos sentirmos abraçados e compreendidos.
O EP se inicia com Despertar, que é a literal descrição do momento em que vivemos “Ele tá baqueado, ela não sai mais da cama, e nada dá vontade de acordar. Tão calmo, tão quieto, piloto automático”. Essa música é literalmente o que eu precisava ouvir, é uma leitura tão verossímil do que está acontecendo, a gente vivendo sem ter certeza do amanhã, porém inertes demais para levantar e lutar. O sentimento é de uma melancolia e inércia de um domingo à tarde. Você sabe o que vai chegar em breve, mas você não tem forças para encarar. Não é uma sensação de desespero, mas sim de um desabafo, admitindo o cansaço e que está tentando melhorar.
Foto: Amanda Barros
A segunda faixa Esperar traz uma guitarra plugada, reverb na voz. Simplesmente jovens cansados fazendo músicas tristes em seu quarto. Eu consigo imaginar todo mundo ouvindo essa no transporte público, voltando pra casa depois de um rolê, aquela sensação de se ver sozinho de novo “Eu ainda não sei se eu vou estar vivo na semana que vem”. Mas a gente sabe que semana que vem tem mais.
Respirar é a terceira faixa, talvez a mais lo-fi de todas. Bem curtinha, mas bem interessante. Acho que literalmente um dos lo-fis mais bem feitos que já ouvi, realmente fiel a estética e realmente o que eu esperaria se me indicassem um lo-fi nota 10. Inseguranças, incertezas, falta de estabilidade, auto estima baixa e lo-fi são as coisas mais jovens que existem.
Correr é a quarta e última faixa desse EP. Uma despedida de uma trajetória não tão longa, porém boa. É fim de noite, você está deitado, refletindo sobre seu dia, antes de conseguir dormir, antes de conseguir aquietar a mente. A desesperança com o passado, porém a positividade-esperançosa de que amanhã vai ser melhor. Suave como uma brisa, você fecha os olhos e o sono te carrega por um córrego tranquilo. O som do violão te acalma e você dorme.
Foto: Amanda Barros
Wagner é simplesmente um dos melhores artistas do país ao meu ver. Ele sempre acaba me surpreendendo por mais que eu espere criações boas dele. Ele compõe sobre coisas pessoais, sobre coisas que aconteceram com ele, mas cada um acaba interpretando à sua maneira e acaba criando laços profundos com a música. Parece até que foi feito lendo sua mente e suas experiências. Ele consegue capturar a mesma mágica que as músicas do Fábio de Carvalho, outro grande artista que eu admiro bastante, passam. E essa mágica nunca cessa de me impressionar.
O Domingos à Noite que o Wagner lançou esse ano me marcou tanto que eu vejo muito dele nesse EP também. É uma continuação sem ser continuação, entende? É a continuação da vibe/espírito. São canções diferentes, são propostas diferentes, mas o impacto causado em mim foi praticamente o mesmo. A melancolia, calmaria e quietude dos dois projetos são bastante parecidas.
Se tivesse um pouco mais de dedilhado nesse álbum, poderia dizer que são os álbuns do ano, um do começo e um do final, para nos mostrar o impacto que 2019 causou. Um ano terrivelmente difícil, mas um ano no qual a música teve um papel protagonista nas nossas vidas, nos ajudando a segurar todas as barras que é ser um brasileiro vivendo em tempos de nefastos, incertezas políticas, medo e retrocesso.
A vida não é doce, muitas vezes é amargo, às vezes é doloroso viver. Mas as coisas doem muito menos quando você sabe que não tá sozinho nessa e quando você tem o poder da música para te ajudar a superar.
Tracklist:
1 Despertar
2 Esperar
3 Respirar
4 Correr
Ficha técnica:
-Todas as composições, vozes, violões e experimentações
por Wagner Almeida;
-Áudio captado por Wagner Almeida;
-Mixagem e masterização por Wagner Almeida
-Foto de capa por Caio Brandão.
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