Já falamos anteriormente no blog sobre primeira parte do EP Sonho Violento e durante a quarentena a parte 2 foi lançada. Não poderia ter um momento que combinasse mais com o tom do EP do que a melancolia do isolamento.
Em partes a melancolia por ver sua liberdade restringida, por partes ver como você e o mundo reage aos tempos de pandemia. Falar sobre a quarentena, sobre o vírus e sobre tudo que isso nos provoca é um assunto que talvez eu fale em outro post. Nesse aqui eu gostaria de falar sobre tudo que esse EP me provocou.
Não são faixas que você compreende totalmente na primeira ouvida, requer vários plays até que eu me sinta satisfeita. Não só porque é curtinho, tal como seu propósito, mas sobre todas as camadas que este nos apresenta, como uma cebola que vai aos poucos sendo descascada e mostrando seu interior.
A cebola me faz chorar igualmente se formos fazer uma comparação horrível. Ainda bem que de horrível só tem a minha comparação mesmo, porque é mais uma obra incrível.
Ainda bem também que eu sou fã incontestável do Wagner e acho as criações dele espetaculares, um dia eu queria poder lançar algo tão bom assim, queria poder me expressar assim também. Esse álbum recebe o incontestável primeiro lugar no meu top álbuns da quarentena e com toda a razão. A tristeza acolhedora persiste e a necessidade de ser abraçado por ela também.
Campeão anuncia o começo da nossa breve jornada pela melancolia acolhedora.
Cansaço tem um tom tão calmo, em tons de sépia, suavemente embalado pelo dedilhado. Como a trilha sonora de um filme, consigo ver o protagonista olhando pro teto do seu quarto enquanto encara o vazio e o vazio o encara de volta, ou no ônibus durante o trajeto cansativo enquanto observa as gotinhas de chuva baterem na janela pensando no quanto é cansativa a rotina.
Viver é exaustivo, ninguém te conta que a vida adulta seria tão difícil assim quando se é criança, e se contassem, não iríamos querer crescer. Cada um tem sua visão e sua perspectiva do que é o cansaço, cada um sabe as dores e as delícias de ser quem é.
Mas acho que todos podemos concordar que ultimamente tem sido mais doloroso do que prazeroso seguir nesse trem sem rumo chamado vida.
A desconexão do eu, as lembranças de como supostamente as coisas eram melhores na infância, o “empurrar a vida com a barriga” e o simplesmente seguir existindo, não vivendo ao máximo como poderíamos. Essa música é certamente a cereja do bolo pra mim.
Lembranças do Céu com sua melodia quase “xilofonica”, com sons estridentes, tal como uma viagem pelo espaço, seguida por diálogos retirados da série Cueio do episódio homônimo.
Saber Quando Parar tem um tom de “fim” desde os primeiros acordes, já soa como despedida, já acerta aquele lugarzinho sensível do peito. Melancolia plena abraçada na melodia um tanto shoegaze lofi, já diziam que shoegaze aquece o coração com sua distorção e acordes melancólicos, saber quando parar também te abraça, mas te diz que o fim é breve, quase como um até logo ao invés de um adeus. Certamente um desfecho digno da parte 1 do EP.
Confira mais sobre o Wagner Almeida acessando os sites abaixo:
https://wagneralmeida.bandcamp.com/
https://www.instagram.com/wagneralmeida_bh/
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