Talvez vocês já tenham se cansado de me ouvir falar do Fernando Motta nesse blog, porém eu não posso perder a oportunidade de falar dele de novo. Especialmente depois do lançamento do EP lapso em parceria com a eliminadorzinho.
Esse EP foi uma pancada no coração que eu não estava esperando, aliás, acho que foi uma pedrada que nenhum de nós esperava. Foi uma surpresa extremamente boa.
O desde que o mundo é cego lançado no finalzinho de 2017 era uma vibe completamente diferente, um álbum feito pra te acalmar, te tranquilizar e te impedir de xingar todo mundo. Pelo menos era esse o efeito que ele sempre teve em mim. Definitivamente é um dos meus álbuns preferidos da vida.
Meus scrobbles do last.fm não me deixam mentir, é um dos álbuns que eu mais ouvi nos últimos anos. Falei muito bem dele nesse post aqui, porém acho que nunca o descrevi como ele merecia. Um dos poucos álbuns que eu posso afirmar que me salvou a vida (sem exageros).
Teve semanas que eu o ouvia sem parar, quando eu estava prestes a explodir de tanto stress, ele era a calmaria de que eu justamente precisava. Era como pisar no freio quando meu corpo só queria acelerar até bater.
Dito isso, lapso é o oposto do último disco. É algo que me surpreendeu positivamente. Nos últimos trabalhos a eliminadorzinho já vem apresentando seu lado mais emo, visceral, quebradeira e gritaria. Eles fluíram bastante na sonoridade desde o nada mais restará até o single Baixo Astral lançado esse ano.
A eliminadorzinho é uma banda que sintetiza bastante a expressão rock jovem pra mim. Rock alternativo bravíssimo, cheio de vigor e raiva (a raiva que serve como agente de mudança e faz as pessoas acordarem, ou seja, o bom sentido). é incrível porque eu acompanho os dois projetos desde o começo e fico extremamente orgulhosa e na expectativa a cada lançamento. A evolução só culmina para o bem.
E é também maravilhosa a influência que as bandas e artistas talentosos transmitem uns aos outros quando lançam projetos juntos assim.
Lembro que o nada mais restará foi meu “disco de cabeceira” por tanto tempo, meu companheiro de karaokê na hora do banho e meu companheiro inseparável por conta da presença fortíssima do shoegaze trazida pela mix e master feita pelo Felipe Aguiar da gorduratrans.
E vocês já perceberam que eu não enjoo de shoegaze por nada neste mundo, lembro de ter pedido muitas vezes para que a eliminadorzinho soltasse mais algumas músicas naquela vibe. Não lançaram, porém se redimiram comigo depois do lapso. Foi a influência shoegazer que os trabalhos do Fernando nem sabiam que precisavam.
Certamente lapso não é um EP que você ouve de primeira e já assimila de uma vez. Requer várias ouvidas para poder assimilar tudo que tá acontecendo. É a beleza do caos, a desordem perfeita, o grito de alívio. Às vezes você só consegue encontrar paz na gritaria (meus amigos admiradores do blackgaze e post hardcore me entenderiam nessa hora).
Eu estou ouvindo esse EP desde que foi lançado e às vezes eu me distraio e noto alguma coisa nova. As bpm são tão frenéticas que eu jamais me atreveria a tocar, porém admiro quem o faz. E também não existe essa de música com muito pedal, pedal nunca é demais e é sempre bem vindo.
E a melhor coisa sinceramente é a música paranoia. Eu não sei nem o que eu poderia dizer sobre ela. Me traz a sensação de estar no meio do mosh ou fazer stage diving e ser carregado pelo público enquanto você grita e se liberta.
Eu confesso que pouquíssimas vezes quis moshar tanto na vida quanto eu quis ontem ao assistir ao show no Almanaque Urbano. Ao presenciar a performance ao vivo, chega a ser um desperdício não moshar. Essa música é extremamente visceral e crua ao vivo. Dá vontade de ouvir de novo e de novo e de novo.
E o conceito também é incrível, a arte do disco é maravilhosa (foto do Tiago Baccarin e arte do Bruno Queiroz), combina muito esteticamente com o som. Memória, nostalgia, paranoia e contraditória – tudo dentro do lapso. Tudo muito verdadeiro, tudo muito sincero e isso sempre acaba transparecendo.
O Nando é uma das pessoas mais verdadeiras e sinceras com a arte que eu conheço. Desde que eu vi meu primeiro dele e meu primeiro show na Breve, lugar que posteriormente seria o reduto de boas lembranças atreladas a shows nacionais, já se via o carinho com o público. Põe o coração e a alma em tudo que faz.
Colabora e ajuda a produzir outros artistas em início de carreira, faz o melhor que pode pros seus amigos e é sempre um amor com seus fãs. Se todos os artistas fossem pelo menos um pouco parecidos com ele, o mundo seria um lugar bacana. Eu só tenho a agradecer por algo que eu nem esperava, porém que veio na hora certa. Você merece todo o sucesso do mundo. Voa alto que o mundo é teu.