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Especial Mulheres Independentes – Parte I: Amanda Conti

A divulgação de projetos de artistas independentes anda com passos de formiguinha, porém, aos poucos, chegaremos lá. Faz parte da minha missão como colaboradora desse blog divulgar cada vez mais projetos muito bons de mulheres independentes.

E a gente espera que, de pelo menos alguma forma, o que fazemos aqui ajude a projetá-las para o mundo. Não sei se já comentei aqui, mas eu tenho a sensação de que é muito mais difícil achar mulheres na música do que parece. Não temos elas mandando seus materiais para  o blog, não temos muita divulgação na internet quanto deveria ou poderia.

O que temos são projetos realmente incríveis de outras mulheres igualmente incríveis, que tentam fazer com que todas nós tenhamos oportunidades de subir ao palco. Gosto de sempre reiterar a importância de ajudarmos umas as outras da forma como pudermos: compartilhando, curtindo, comentando, apresentando para os amigos e indicando.

É mega importante ter essa visibilidade tanto para quem já está no ramo da música quanto para meninas novinhas para se inspirar a tocar e cantar. Se vocês tem projetos legais pra indicar, mandem pra gente no Facebook, Instagram ou na página de contato.

Na primeira parte do post eu vou falar sobre um dos dois projetos muito bons que conheci através do Sarau As Mina Tudo.

E alô selos, coletivos e projetos para alavancar bandas/artistas de plantão, prestem atenção nas mulheres que estão começando na música. É muito importante contar com a ajuda de vocês na divulgação e para arranjar shows. Toda ajuda é sempre bem vinda e você pode estar perdendo uma artista de ouro. Se liga!

Amanda Conti

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Um passarinho me contou sobre a apresentação da Amanda no sarau e eu decidi pedir uma entrevista. Amanda é uma cantora/intérprete/cantatriz/desenhista muito talentosa. Assim como Maria Bethânia, ela ainda não compôs nenhuma música de sua autoria, porém isso não quer dizer que ela não nos encanta quando solta a voz.

João Gilberto (que descanse em paz) também se escondia um pouco atrás do violão e cantava timidamente. Amanda também, mas apesar de muito tímida, ela se liberta e mostra seu verdadeiro potencial nos palcos. Os estilos preferidos dela são MPB, Jazz e Soul.
A tecnologia do Instagram não nos permitiu incorporar os vídeos do perfil dela aqui no post, porém você pode conferir eles tanto no IGTV (https://www.instagram.com/seis.mandacarus/channel/) quando os vídeos menores no feed (https://www.instagram.com/seis.mandacarus/)

ENTREVISTA

Primeiramente, para que nós possamos te conhecer, como você descreveria seu projeto e sobre o que você canta?

Por que eu canto? Eu me pergunto isso sempre, e nos últimos tempos, em que cantar cada vez mais assume o lugar daquilo que eu quero fazer da minha vida, tenho me perguntado cada vez mais. Eu não encontrei ainda nenhum motivo muito significativo, simbólico, ou qualquer coisa do tipo.
Acho que eu posso inventar mil motivos, mas o que me move de verdade verdadeira sempre acaba sendo o fato de que eu sou completamente apaixonada por cantar. Eu gosto, de verdade, e parece que eu sinto que eu existo mais quando eu estou cantando e quando eu estou no meio da música.

É engraçado, mais pra mim, que sou uma pessoa com alguma dificuldade em me expressar oralmente, cantar às vezes aparece quase como uma alternativa. E eu penso muito na minha relação com cada uma das linguagens artísticas que eu estudo: artes cênicas, o desenho e a música; e acho que das três, a música, quando eu canto, é a que me deixa mais vulnerável, é a que mais me expõe.

Do que eu fiz até agora no teatro, tanto como atriz quanto como dramaturga, sempre tem mediações muito claras entre eu e o mundo: os personagens, ou, se estou escrevendo, o próprio texto. É como se eu me revestisse de alguma coisa antes de me expor. E com o desenho também, o próprio desenho é a minha mediação.

É claro que algo de mim está no desenho – inclusive tem desenhos profundamente pessoais – mas a mediação do papel é mais um nível entre eu e, sei lá, uma exposição. Mas quando eu canto, apesar de ter a mediação da música, sou eu quem está lá. E estou cantando com a minha voz, eu sou a Amanda cantando.

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E eu poderia dizer que até hoje eu não consegui compor nada autoral – não por falta de tentar – e então as composições de outras pessoas, as coisas que elas quiseram contar usando a música como linguagem, são uma mediação parecida com a dos personagens que eu interpreto como atriz. Mas eu nem sei de verdade até que ponto eu acredito nisso.

A verdade é que quando eu canto eu me sinto sem revestimentos, eu sinto que não estou nem um pouco escondida. E ao mesmo tempo que é um pouco assustador, é uma coisa maravilhosa. Eu viro quase que uma cúmplice de mim mesma, fico até meio boba de vaidade. E cantar com outras pessoas, cantar com gente tocando, é quase como se todo mundo estivesse contando algum segredo seu, conversando.

Acho que o que eu poderia falar de projeto meu agora é que estou num momento de procurar e tentar construir cada vez mais espaços pra música na minha vida: procurando lugares pra tocar, gente com quem tocar, tentando dar os primeiros passos me acompanhando sozinha. Talvez mais que um projeto, eu estou num momento de projetos, vários projetos. Projetos de duo, de banda, rascunhos de projetos, vídeos…

Criar a conta no instagram, a seis mandacarus, acho que faz parte de um projeto de começar a me colocar de algum jeito, e nesse sentido até me fazer vulnerável, cantar pra pessoas. Foi uma saga pra criar a conta, por mil travações que iam desde vergonha até achar que era uma bobagem vaidosa e ruim ficar cantando e querer que alguém quisesse escutar. Talvez eu até ache isso ainda às vezes, mas gente que me apoia muito me dá uns empurrões quando eu mais preciso deles.

Minha irmã foi quem me deu pra criar o seis mandacarus, um tempo depois de ter me dado um pra criar o um mandacaru, de desenho. O nome, “seis mandacarus”, é só uma variação do “um mandacaru” com o número que minha irmã achou mais legal. E o “um mandacaru” também não tem muito de metáfora intencional, nasceu de uma piada com o meu nome: Amanda C, mandaCA, mandacaru.

E eu gosto de ter esse tipo de bobeirinha infiltrada não só na minha vida no geral como nas coisas que estão virando minha vida profissional. Acho que como artista eu às vezes me cobro uma mega densidade e profundidade e metáforas em tudo que eu invento, e com essas bobeirinhas, assumidamente bobeirinhas, eu alivio um pouco essa barra e me sinto mais sincera comigo mesma.

Bem, eu já falei antes que eu não componho – ainda, no mínimo. E como eu canto coisas diferentes, navego por vários gêneros de música pelos quais eu sou apaixonada e por artistas pelos quais eu sou apaixonada, acho que não tenho temáticas muito homogêneas. E eu até gosto disso, de poder cantar sobre coisas muito diferentes.

Claro que sempre acaba sendo significativo pra mim de algum jeito: às vezes só por ser de uma artista determinada já fica cheio de alguma carga afetiva, ou às vezes é um gênero de música muito especial pra mim, às vezes a letra me diz alguma coisa específica, às vezes eu acho a melodia ou a harmonia maravilhosas… Enfim, nada homogêneo.

Ultimamente o que eu tenho mais estudado para cantar é jazz e mpb, mas eu também sou apaixonada por soul, funk, disco, pela nueva canción chilena e música latina com incorporação de elementos folclóricos no geral, enfim, várias coisas.

Quais artistas nacionais e internacionais exercem maior influência no seu trabalho?

Acho que eu tenho referências e influências muito específicas pra cada gênero musical que eu experimento, apesar de elas se cruzarem de vez em quando. Acho que as principais no momento seriam essas, mas isso também muda bastante e muito rápido, ainda mais agora que estou justamente procurando descobrir um pouco mais quem sou eu como artista e cantora (apesar de cada vez mais eu achar que essa procura vai ser meu percurso artístico pra vida toda).

JAZZ: Ella Fitzgerald; Sarah Vaughan; Esperanza Spalding; Nina Simone
MPB: Elis Regina; Milton Nascimento
SOUL/FUNK/DISCO: Stevie Wonder; Earth, Wind & Fire
NUEVA CANCIÓN/TRADIÇÃO LATINA: Mercedes Sosa; Victor Jara

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Uma das apresentações do Sarau no Jazz Club. Foto da @adiregattieri

E quais seriam os artistas que você gostaria de conhecer/fazer um show junto?

Nossa, dobradinha de perguntas difíceis… Acho que todos os que eu mencionei antes, destacando o Milton, o Stevie e o Victor Jara (digo, se ele estivesse vivo). Fora eles, e alguns mais contemporâneos, acho que seria uma loucura conhecer o Jacob Collier e cantar com ele, a Lianne La Havas, a Camille Bertault e a Vanessa Moreno.

Pelo que podemos perceber no seu perfil do Instagram, a arte tem um papel muito importante na sua vida, vimos que você também desenha. Qual sua história com a arte e o quanto ela impacta você?

Bem, desenhar é uma coisa que eu já fazia muito quando era pequena, e num momento em que eu ainda não estava familiarizada com as palavras era o meu mecanismo principal pra inventar histórias, personagens, coisa que eu ainda sou apaixonada por fazer.
Eu tive um grande hiato na minha vida em que eu parei de desenhar e nem sei muito bem porque, acho que foi ficando para trás muito tranquilamente. Num curso de artes do primeiro ano do colegial, depois desse hiato, eu tive uma professora incrível e fiquei de novo muito animada com a linguagem do desenho.
No segundo ano eu voltei a desenhar, principalmente de observação, e continuei desenhando até hoje. Eu tenho períodos em que eu produzo sem parar, desenho um monte de coisa, e outros períodos grandes em que eu não desenho nada, e hoje em dia eu estou muito em paz com essa relação um pouco instável com a linguagem.
O que mais tem me interessado nesses últimos tempos são os quadrinhos, inventar histórias pequenas e desenhar sequências.Com a música foi um pouco diferente. Em primeiro lugar, apesar de minha relação com ela se transformar bastante ao longo dos anos, ela sempre foi bem estável na minha vida. Não importava como, a música sempre estava lá como uma variável de algum jeito.

O primeiro contato mais formal que eu tive com artes foi música mesmo: eu comecei a fazer musicalização pelo teclado, um curso bem básico pra me introduzir à música mesmo, quando eu era bem pequena, e já cantava no coral da escola. Da musicalização eu fui pra o teclado, e foi minha professora de teclado/diretora da escola de música que sugeriu que eu entrasse pras aulas de canto, já que eu era afinada.

E, nossa, sou eternamente grata por essa sugestão dela. Eu me encontrei no canto e na voz mais que eu já tinha me encontrado em qualquer coisa – eu ainda passei depois por violão e um período curto de violino, mas cantar sempre foi mais especial pra mim.

Durante o ensino médio eu tive que sair das aulas por falta de tempo, mas mantinha minha relação com música viva não só em casa como nas aulas de teatro e numa prática de banda do ensino médio, pra qual entrei no segundo. Foi inclusive no Ensino Médio que minhas influências musicais, aquilo que eu ouvia e conhecia, começou a mudar e se expandir muito.

A maior parte do que eu amo de MPB e jazz começou a aparecer nessa época. Eu sempre fui uma pessoa com alguma dificuldade pra me colocar, pra me comunicar até. Um monte de coisa sempre apareceu como um obstáculo pra mim, desde vergonha e timidez até, sei lá, não conseguir expressar o que eu penso de um jeito que as pessoas consigam me entender com clareza.

As artes sempre fizeram muito mais sentido pra mim, no sentido de que quando eu me expressava por via das artes, eu sentia que aquilo era muito mais próximo do que eu estava pensando do que se eu tentasse explicar. E até como ferramenta pra entender o mundo, sempre foi uma coisa que me fascinou muito e despertou muito o meu interesse.

Tanto que chegou o ponto do terceiro ano em que eu teria de escolher um curso e eu estava quase completamente perdida, mas de uma coisa eu tinha certeza: tinha que ser artes. Eu fiquei navegando entre música, visuais e artes cênicas por muito tempo e foi até um pouco por acaso que acabei escolhendo a última opção.

Apesar disso (agora estou no segundo ano da graduação em artes cênicas), a música ainda é pra mim uma das linguagens mais significativas, e apesar de usar e explorar o quanto eu quiser as artes visuais e o teatro, sem nunca abrir mão deles, o que eu mais consigo me ver fazendo profissionalmente é cantando. Mas é muito isso, pra que escolher se eu posso fazer as três coisas? Elas até acabam se complementando e se enriquecendo.

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Um dos muitos desenhos da @um.mandacaru

Tem algum plano pro futuro sobre lançar singles, EP ou mais datas de apresentações?

Os planos são praticamente infinitos mesmo… Ainda mais nesse momento que estou dando os primeiros passos como artista, fazendo as primeiras coisas sozinha, eu acabo estabelecendo várias metas e procurando qualquer oportunidade que eu tenha pra ir construindo isso tudo.
Não tenho muitas datas concretas porque eu me inscrevo pra o que quer que apareça e organizo quantos eventos eu puder, mas ainda está num lugar muito estável e principalmente pras inscrições eu fico esperando algum tempo por confirmações. Mas pretendo organizar ainda pra esse ano algumas apresentações abertas com um repertório que já venho construindo desde o ano passado.Sobre lançar singles e EP, eu ainda não tenho nada autoral. Já me propus a compor algumas vezes, mas ainda não consegui me sentir feliz com nada, então meu repertório não tem nada escrito por mim. Meu projeto mais recente tem a ver com uma pesquisa relativa ao álbum Mujeres Argentinas, na voz da Mercedes Sosa, e uma série de vídeos que pretendo lançar até o ano que vem.

Muito obrigada pela entrevista, Amanda. Adoramos te conhecer!

Acompanhe a artista nas redes:

https://www.instagram.com/seis.mandacarus/
https://www.instagram.com/um.mandacaru/
https://www.instagram.com/amandaegabrielduo/