Primeiramente eu quero pedir desculpas. Admito que demorei demais para ouvir essa banda tão boa. Eu sempre demoro demais para ouvir coisas novas, apesar de ter todos os incentivos do mundo para fazê-lo, mas acho que são falhas comuns do ser humano.
Ainda há tempo para corrigir essas falhas e se você ainda não ouviu, talvez eu possa te convencer a ouvir também. De Carne e Flor é formada por Bruno Araújo (voz), Guilherme Xavier (guitarra), Vitor Ferrari (baixo), André Jordão (guitarra), Eliton Si (bateria/voz).
No final de 2018 eles lançaram o álbum Teto Não Familiar, uma mistura visceral de emo, post rock, screamo e post hardcore. Confesso que apenas a citação dessa mistura de gêneros já me deixaria curiosa para conhecer a banda, porém para o deleite de todos nós, tem muito mais do que só isso.
Acho que poucas bandas conseguiram me conquistar e me emocionar de imediato. Talvez eu esteja sensível demais, propensa ao choro ou a banda é realmente boa demais. Apenas 4 músicas foram necessárias para atingir aquele pontinho certeiro do meu peito, atingindo aquela zona sensível onde moram os sentimentos.
Foi como revisitar algo doloroso que eu já havia vivido, sabe aquela expressão “bateu a bad”? Bem clichêzona, porém é a real. Talvez porque família seja um tema complicado, que está na realidade de todos nós, talvez sejam as belíssimas letras das músicas, talvez sejam os pedais, talvez seja o grito do Bruno, mas algo me conectou com esse álbum.
É como se cantassem os sentimentos mais profundos e dolorosos que temos dentro de nós, alguns sentimentos que estão tão profundamente escondidos que nem sabíamos mais que existiam. O grito é a libertação dessa dor, ou ao menos uma maneira de se expressar e tentar se livrar do fardo carregado ao longo de tantos anos.
Batemos um papo para conhecê-los melhor…
Como vocês descreveriam a banda para quem nunca ouviu?
R: Emo da sessão de descarrego. A sonoridade é caótica, urgente, melódica, dissonante e voraz. Gostaríamos de criar uma atmosfera capaz de transportar o ouvinte a este ambiente adequado para receber o drama que as vozes carregam. Para isso usamos estruturas de screamo, (pós-)hardcore e pós-rock, sem medo de acrescentar o que a gente sentir vontade.
Como está a recepção das pessoas depois do lançamento e durante os shows?
R: Sobre o EP, quando alguém diz pra gente que curtiu o som normalmente é por suas próprias razões, encontrando referências que nem eram a nossa intenção! Isso é interessante pois mostra como mesmo algo trazido de lugares muito específicos por nós, pode ser interpretado ou recebido de forma diferente pra quem ouve, dependendo da bagagem de cada um, tornando o sentido geral da coisa ainda maior.
Sobre os shows, já ouvimos que nós criamos uma apresentação com o andamento interessante com começo, meio e fim, repleto de passagens marcantes. Nos esforçamos pra valer a pena conferir!
Da onde vem a inspiração para o álbum e como foi a composição das letras?
R: Desde a época da Black Clovd (banda de hardcore melódico pique More than Life onde dividi guitarras com o Guix entre 2014 e 2016), chegou um momento onde eu tava sendo mais produtivo escrevendo letras do que melodias, por me sentir cheio de coisas pra contar, não ser muito bom em expressar de forma direta as coisas mais sérias da vida e não me sentir muito afim de desabafar ou incomodar alguém.
Quando a tal banda acabou coincidiu do Vitor (baixo) querer montar este projeto. Parte das letras foram escritas num momento de vazio por conta de desemprego e falta de rumo (tinha acabado de terminar um curso técnico o qual não me via exercendo profissionalmente).
Me encontrei relembrando amizades antigas e pensando em como cada um seguiu seu rumo e eu fiquei no mesmo lugar (nas poças se transforma, provavelmente a letra que tinha guardada por mais tempo). Também escrevi sobre percalços pelos quais passaram meus familiares (de um teto não familiar), a descoberta e receio de sentir um novo afeto (em medo e em desejo).
A primeira faixa (A âncora que jogamos) foi escrita por último, após o Victor (ex-guitarrista) ter trazido o nome da banda (que tem como referência a música De Carne Y Flor da banda espanhola Viva Belgrado), além de ser um lamento inicial também apresenta o clima do EP, batizado com o nome do segundo episódio de Evangelion porque o lado otaku falou mais alto.
Quais são as bandas que vocês se inspiram?
R: Alexisonfire e U2 (risos).
A banda canadense de post-hardcore Alexisonfire, uma das inspirações da De Carne e Flor
Vocês tem outros projetos musicais?
R: Também tô de vocal num projeto chamado Ravir com o Guimo e o João (ambos membros da Jovem Werther, banda que me influenciou muito e que cheguei a tocar durante o ano passado e hoje se encontra em hiato). A ideia é fazer um pós-hardcore mais mewithoutYou e Fugazi.
O Guix (guitarra) também toca no Institution e o André (guitarra) é o cara mais multifacetado da banda, toca na O Bicho de 3 Cabeças (instrumental fudidásso), Lapso (grind/black metal) e Obscvre Ser (blackened hardcore) e também foi parte da Jovem.
Vale citar que o Elitinho (bateria) tocava na We are Piano (pós-hardcore/experimental) e não pensei duas vezes em chamar ele quando fui montar a banda.
Bandas brasileiras que vocês admiram e gostariam de tocar junto?
R: Acho Colligere incrível e boa parte do pessoal que nos viu tocar diz que a gente tem uma veia em comum. Mesmo que a banda se apresente muito raramente, torcemos para que um dia ocorra essa oportunidade! Das que pararam mas já fizeram minha cabeça, Envydust e 3 Segundos Antes da Queda.
Atualmente, tá rolando muita coisa boa tanto em rolês mais pesados (Sendo Fogo, Rastilho, Surra, Desventura, Uhrutau), experimentais (Hiroshima Bunker, Rakta, Ema Stoned, Labirinto) até os mais de boa (Superbrava, eliminadorzinho, Raça) e além de ser tudo banda foda (algumas citadas já tocamos junto) seria legal ver como a gente se sairia em line-ups díspares, já que bebemos de todas essas fontes, nossa banda deve servir também para encaixar na diversidade de circuitos que já existem.
Quais são os próximos shows e planos para o futuro?
R: Nosso próximo show é dia 04/05/2019 no Rock Together em Santana, tocando com Reiketsu e Vasen Käsi. Seremos a banda mais levinha do rolê (risos), então desde já ocorre esse lance de se misturar nos line-ups.
Grande expectativa também pelo fato de recentemente termos dividido palco com Vasen Käsi durante o festival No Gods No Masters que acontece anualmente em Peruíbe-SP, além de ter visto o Reiketsu durante a turnê da banda americana Rosetta (e ter tocado com eles em Curitiba com a Black Clovd e foi sensacional).
Para nós, foram mais de dez apresentações seguidas para divulgação do Teto Não Familiar. Esta é a última data que temos na agenda, por enquanto. Vamos colocar ordem na casa para considerar o próximo lançamento, afinal já estamos tocando ao vivo vários sons novos, além das canções do EP. Faremos tudo isso conversar no futuro! Obrigado pelo espaço para falar sobre nossa humilde banda.
Link do show do dia 04/05: https://www.facebook.com/events/570829106744775/
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