O universo expandido da música; Post-Metal, Post-Rock, Blackgaze, Doomgaze, Post-Black Metal, Math-Rock, Slowcore, Folk, Noise…
Boas, a coluna Mondo Noise por Israel Machado estreando no Rebobinados e trazendo um panorama do que acontece no mundo da música em sua forma mais alternativa.
Esse espaço foi criado para trazer aos leitores, as interações entre diversos estilos. Quebrando barreiras e abrindo portas ao experimentalismo vamos mostrar aqui, os pioneiros nessas misturas sonoras. Também iremos tratar do que de mais atual está impactando o cenário musical alternativo. Cuidado, termos diferentes serão utilizados aqui para definir o som de algumas bandas, alguns rótulos são novidade até para o redator dessa coluna, sendo assim vamos com calma nesse mergulho!
Iniciaremos essa coluna com o estilo que mais faz uso do experimentalismo e fusão entre estilos, o “Post-Metal”. Nos últimos 20 anos uma infinidade de bandas nasceram, e também muitas delas já findaram seu ciclo deixando discípulos competentes que dão continuidade ao estilo.
Desconstrução e Distorção:
O “Post” nada mais é do que um neologismo, um artifício linguístico utilizado para indicar uma nova definição ou interpretação para a palavra/objeto já existente. Ou seja, uma nova roupagem para algo já feito há muito tempo. Não se trata de descobrir ou inventar a roda novamente, mas sim criar novas utilidades para a roda.
Levamos em consideração que o universo do Rock’n Roll já possui mais de 60 anos, o do Heavy Metal mais de 50 e o do Black Metal apontando na casa dos 40 anos (Welcome to Hell da banda Venon foi lançado em 1981, por exemplo).
Isso não é ruim, apenas mostra o interesse do público em consumir esse tipo de material, tornando assim o hábito de ouvir esses estilos, atemporal. Não é raro você encontrar na rua uma molecada com camisetas de bandas com mais de 40 anos de carreira. Será que há como ocorrer renovação nessa cena?
Sim, e os estilos mais recentes como os “Post-alguma coisa” estão ai para provar isso. Jovens fazendo música para jovens. Essa afirmação pode até parecer propaganda de banco, mas o fato é que, com os avanços da tecnologia e o aprendizado musical facilitado, a produção artística de um álbum pode ser feita de dentro de um quarto, em uma casa qualquer de um pais distante e sem “tradição” no cenário da música pesada. E mais,essa nova safra de músicos ousam fazer diferente.
A desconstrução dos estilos, ou a criação do “Post-Metal”, vem para somar ao cenário musical, trazendo uma nova abordagem dos estilos clássicos. Não existe a negação das origens pelas bandas de “Post”, muitas dessas bandas deixam claras suas raízes sonoras. Scott Kelly vocalista da banda icônica Neurosis, em uma entrevista para a Revista Rolling Stone em 2000 indicou bandas como Black Flag, Pink Floyd King Crimson e The Melvins entre outras, como influenciadoras para a criação de sua música.
Neurosis
Já que citamos Scott Kelly, a banda Neurosis é um exemplo de reinvenção e evolução a cada álbum, o que se iniciou como uma banda Punk/Hardcore, evoluiu rapidamente para algo inovador. Incorporou novas tonalidades e texturas ao seu som; experimentando afinações diferentes do usual, adicionando toneladas de efeitos às guitarras (Reverb+ Fuzz+ Reverse+ Overdrive+ Delay…e outros) e construção das canções fora do padrão Verso-Refrão-Verso-Refrão… Assim chegamos ao primórdio do “Post-Metal”. O álbum que marca o firmar dos pés no experimentalismo da banda é:
Through Silver in Blood – Lançamento: 1996 – Gravadora: Relapse
https://relapsealumni.bandcamp.com/album/through-silver-in-blood
Uma fusão insana de atmospheric/sludge/progressive metal/industrial.
Não pertencendo a um estilo único, a mídia tratou logo de criar a alcunha “Post-Metal” para rotular esse som. Ok, bandas como The Melvins, Killing Joke, Swans, Fugazi também foram inovadores em seus trabalhos, mas eles não buscavam o equilíbrio entre; metal extremo, a hipnose sonora dos loopings e a crueza do Sludge tal como Neurosis alcançou.
Os fãs brasileiros, tivemos a oportunidade de conferir no Brasil uma apresentação histórica da banda dia 08 de Dezembro de 2017 no Carioca Club. Veja a resenha do show aqui.
Para aqueles que nunca separaram um tempo para ouvir a banda, esse álbum é um ótimo ponto de partida, principalmente para os fãs de um Sludge em sua forma bruta e desesperada. É natural que outras bandas trilhem os mesmos caminhos dos pioneiros. Não como simples cópias, nasceram bandas estupendas como ISIS, Pelican, Jesu e Amenra. Essas bandas são responsáveis por verdadeiras obras-primas que iremos tratar ao longo das próximas colunas.
Hoje existe uma infinidade de bandas que transitam pelo “Post-Metal”, obviamente nem todas são ótimas ou sequer boas. Algumas possuem técnica apurada, mas possuem emoção zero. Já outras bandas, parece que nasceram para continuar a saga dos pioneiros; Inovar e quebrar barreiras.
LLNN
LLNN vem surpreendendo a cena atual. Praticando um som que eles chamam de Post-Apocalyptic Hardcore, chamaram a atenção com o EP Marks de 2014. Realmente, o que se ouve por aqui é uma trilha sonora de desespero, agonia e destruição. Em atividade desde 2014, já assinaram com a Pelagic Records, que tem em seu cast figurões como pg.lost , MONO, Cult of Luna, The Ocean e os brasileiros do Labirinto.
Loss – Lançamento 2016 – Gravadora Pelagic Records
http://llnn.bandcamp.com/album/loss-album
Obscure Sphinx
Mais próximo do Doom-Metal a banda Obscure Sphinx traz uma das mais viscerais vocalistas da atualidade Zofia “Wielebna” Fraś. O quinteto polonês formado em 2008 executa em seus 3 álbuns, um Post-Metal com forte pegada Sludge/Doom. Fora do radar de muitos ouvintes o álbum Void Mother de 2013 traz uma belíssima capa, mas é no conteúdo do disco que a banda foge do lugar comum. A banda transita com uma facilidade enorme entre momentos de tranquilidade quase hipnótica de passagens folk acústicas e a explosão atômica do Post-Metal.
Void Mother – Lançamento 2013 – Gravadora: Independente
http://obscuresphinx.bandcamp.com/album/void-mother
Angel Eyes
Angel Eyes é um quarteto de Illinois – Chicago, na ativa desde 2003, se auto-rotulam como Atmospheric Sludge Metal. Bem, podem até ser mais bem Sludge, mas é inegável a pegada Post-Metal em todo o trabalho da banda, principalmente nas partes mais aceleradas. Flertam com o Hardcore em algumas partes do vocal, longe da pegada emo que alguns grupos de Post-Hardcore possuem.
…and for a Roof a Sky Full of Stars (EP) – Lançamento: 2007 – Gravadora – Underground Communique
http://undercomm.bandcamp.com/album/and-for-a-roof-a-sky-full-of-stars
O mergulho nesse universo é vasto e cheio de coisas maravilhosas. Abrir a cabeça para novos estilos mostra amadurecimento. Tudo bem, nem sempre o novo é melhor que o antigo, mas ninguém vai adoecer em provar algo diferente, e nessa viagem você pode encontrar o Santo Graal da música.
Esse ano está sendo muito interessante nos lançamentos fora do universo Shoegaze/Dreampop. O que acham de uma lista de melhores do primeiro semestre de 2018, envolvendo os mais variados estilos da música torta e obscura?
Então nossa próxima conversa será uma lista com aquilo que saiu de melhor nos primeiros 6 meses de 2018!