Olá! Começamos um novo ano, 2024 está finalmente aqui! Dito isso, trazemos algumas novidades, a primeira delas é esta nova coluna “Cápsula”. Aqui temos como objetivo reviver alguns discos que gostamos, mereciam mais destaque ou que mais pessoas os conhecesse.
A ideia é trazermos sempre que possível discos que nos marcaram de alguma forma, que tenham ao menos uma década. De artistas ou bandas que encerraram suas atividades, estão em hiato ou em status diferente de ativo.
Aquelas que não vemos aparecer tanto em listas, retrospectivas de décadas passadas e ou outros artigos musicais. Mas, que com toda certeza vale a pena você ouvir ao menos uma vez. Lembrando que, os discos citados não seguem ordem específica.
Fausto Fawcett e Os Robôs Efêmeros (1987)
Em 1987 o escritor e jornalista (entre mil e outras coisas mais) carioca Fausto Fawcett lançava o álbum “Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros”. O primeiro de uma trilogia (não oficial até onde eu saiba) sobre uma Copacabana futurista e decadente (não tão diferente do que ela e o resto do mundo se tornou).
Com um som diferente de tudo que viria a ser lançado depois pode-se dizer que com esse álbum, Fausto criou e matou um gênero único.
De uma forma que nem os sons dos dois álbuns posteriores conseguiram preservar o que é alcançado aqui. Com uma mistura de pós-punk, funk, new wave e até samba, criou uma ópera cinemática, onde cada música é uma cena descrita e cantada, com início, meio e fim (não nessa ordem).
Apesar de não lançar mais de estúdio desde o Básico Instinto de 93, Fausto e sua antiga banda (Robôs Efêmeros) continua fazendo shows. Quando não canta músicas inéditas baseadas em seus livros (o próprio Básico instinto, Copacabana Lua Cheia ou Favelost).
Moptop – Como se comportar (2008)
Em 2008 saía o último disco de estúdio da banda carioca Moptop. Ele não chega a ser datado, mas que carrega muito do som da época, principalmente de The Strokes, que inclusive era feita a comparação.
Lembro de chegar a ouvir na época o pessoal chamando eles de Strokes Brasileiro. Mas, para ser justo, mesmo com toda influência, não existe cópia, e o disco ainda carrega sua identidade própria.
As letras e a forma com que o vocalista Gabriel Marques cantava, tem um compasso muito próprio. Chegava na borda do que o mainstream aceitava (estavam concorrendo ao prêmio de banda revelação no MTV VMB de 2007, perdendo para o Fresno – apesar de que, ambas não surgiram em 2007).
Encerraram as atividades em 2010 e com certeza deveria ter um lugar de destaque ao lado de Los Hermanos, mas que muitas vezes passa batido.
Clube da Miragem – Barbarella, sangue e beijos (2018)
“Um híbrido entre o Samba e o Gótico com o futuro em mente. Alguma emoção sendo negociada enfim”. Esse é um trecho retirado do perfil da banda no Spotify, que descreve um pouco da proposta do Clube da Miragem. A banda carioca se descreve como a primeira banda de Samba Gótico do mundo.
Apesar das plataformas digitais datarem o EP Barbarela, sangue e beijos (único conjunto de músicas gravadas pela banda) como de 2018, ele é bem mais antigo que isso. Lembro de ouvir esse disco em 2013, 2014 já, e em uma rápida pesquisa é possível encontrar registros dele na internet posteriores a 2012 também.
A música popular brasileira e o samba propriamente dito (apenas uma impressão, não sou grande conhecedor), em sua origem e nos tempos onde nasceram os clássicos, carregavam uma certa melancolia em algumas músicas, que foi se abafando de uma forma a se tornar parte do que deve ou não se falar (pode até se dizer da contemporaneidade – capitalismo) da “gratidão” pelo que se tem, pela negação da tristeza, a positividade tóxica, pela própria despolitização das coisas e da música talvez.
Com influências que vão de bandas pós-punk como The cure, Killing Joke, Cocteau Twins, Vultos, Kafka até os sambistas Candeia, Cartola e Nelson Cavaquinho, a banda resgata essas origens aflitivas e entrega antítese incrível que fazem desse disco um achado, e a música que nomeia o EP um clássico.
Não encontrei nenhuma noticia recente de atividade da banda, seria incrível ouvir algo novo deles hoje em dia, chegaram a lançar um single (2021), mas que parecia mais como uma intro, um prenuncio, de algo que viria e nunca veio. Fico na esperança mórbida por um novo disco deles.
Yonlu – A Society In Which No Tear Is Shed Is Inconceivably Mediocre (2009)
Em 2023 eu tive a oportunidade de assistir a peça “Ana Marginal” , que traçava as personas deixadas pela poeta carioca Ana Cristina Cesar depois de sua morte.
Em determinado momento da apresentação, o texto da Michele Ferreira questionava de forma metalinguística sobre para qual caminho a própria peça iria em determinado ato e fala algo como “então é isso?
Vou limitar e resumir todo o trabalho feito em vida por Ana, Cristina, e Cesar (as personas mas o nome e sobrenomes) em sua morte?” e acho que o trabalho de Yonlu também leva essa questão.
Sua vida e seus sentimentos são retratados em seu curto trabalho por ele mesmo, em suas letras e melodias, e acho que por si só basta talvez, ao menos para o que essa coluna se propõe.
O segundo álbum póstumo de Yonlu, lançado pela gravadora de David Byrne (vocalista do Talking Heads), é o melhor disco para se conhecer o trabalho do musico gaúcho. Com letras e melodias cheias de influência do folk, bossa nova e lo-fi, ele recebeu uma curadoria muito boa com a inclusão de algumas gravações inéditas que não tem no primeiro (Yonlu de 2008).
Algumas canções dele carregam uma certa ironia, como alguns ritmos dançantes para uma letra muito melancólica, por isso me lembra uma coisa entre os Moldy Peaches e o som denso do Nick Drake. Que ao menos pra mim, mesmo sendo um som lindo, é difícil ouvir, emana tamanha sinceridade e sentimento que demanda uma escuta ativa do ouvinte. Não que todos os discos não sejam assim, mas no caso do Yonlu, não sinto que seja algo que de pra você ouvir de fundo fazendo algo, ao menos é a percepção que tenho.
As redes sociais dos artistas mencionados na lista: